O padre comedor de bananas

Astuciava ir até a vila no sábado. Era o dia de encontrar amigos, saber das novidades e tomar uma pinga, aproveitando para fazer as compras que Serafina sempre pedia. O dinheiro era pouco, mas economizava uns trocados para o goro, pelo menos uma boa catuaba, que era sua preferência. Na verdade Balbino não era homem de “encher a cara”. Tomava uma ou duas doses só para animar a conversa.

E tinha o padre Miguelito, um espanhol que chegara à vila há mais de 30 anos e por ali ficara com sua fé e sua bondade, além da infatigável queda pelas bananas. Não podia ir à vila sem levar essas frutas para o padre, pois sabia da sua decepção se assim não procedesse. No quintal, olhou as bananeiras e escolheu dois cachos bonitos de banana da prata, mas só encontrou um pequeno cacho de banana maçã, preferida do padre Miguelito. Na verdade, essa espécie de fruta, pequena e com leve sabor de maçã, está em vias de desaparecer e hoje dificilmente é encontrada nas feiras livres.

A vila ficava perto, mas como não gostava de se estafar, arrumou o burro logo cedo e saiu depois de um bom gole de café com beiju de massa e um até logo para Serafina. Resolveu ir logo à igreja levar as bananas do padre, que às vezes ele pensava ser parente de macaco. “Nunca vi nada igual, só se na Espanha não tem banana” comentava com a mulher. Dona Graciela, que cuidava da igreja e da casa do padre respondeu o bom-dia de Balbino e indicou onde o religioso estava.

Rosto franco como sempre, o padre saudou-o de olho pregado no bocapiu que lhe era entregue, bananas por certo. E era isso mesmo! “Padre tem uma coisinha por senhor aí, mas da maçã só tem uma meia dúzia”  falou hesitante Balbino. O sacerdote mal agradeceu e já traçava uma banana quase com casca  e tudo. “E Serafina como vai?” e a última das bananas maçã que Balbino levara desaparecia na volumosa barriga do sacerdote. “E Serafina, e a moça Bernadete (filha do casal) como vão?” insistiu para em seguida questionar: “Mas Balbino por que você não trouxe banana maçã?”. “Eu trouxe padre” timidamente disse Balbino apoiado por dona Graciela que estava recolhendo as cascas sobre a mesa. Na sua singeleza Balbino pensou “Meu Deus, esse  padre deve ser mesmo parente de macaco, se não for filho!”.