Estamos há mais de oito anos com os salários congelados. Oito anos enfrentando inflação, aumento no custo de vida, desvalorização brutal dos nossos vencimentos. Em contrapartida, o que vimos nesse mesmo período? Um aumento vertiginoso no subsídio dos magistrados. Vimos auxílios surgirem do nada — auxílios sem qualquer justificativa técnica, moral ou racional. Um exemplo emblemático: o famigerado "auxílio-acervo", um adicional pago por acúmulo de trabalho dentro dos cartórios. Mas quem carrega esse acervo? Quem faz esse trabalho pesado? São os servidores. São os técnicos, os analistas, os escreventes. Nós é que estamos no batente todos os dias, até tarde da noite, enquanto os benefícios vão parar no contracheque de quem menos põe a mão na massa.
Os magistrados têm férias estendidas, licenças-prêmio que podem vender, gratificações generosas, e uma série de vantagens que os colocam em uma casta inalcançável, desconectada da realidade da maioria dos trabalhadores da Justiça. Nós, servidores, temos apenas uma certeza: a de que seremos esquecidos, ignorados e sobrecarregados mais uma vez.
Como se isso tudo já não fosse escandaloso o suficiente, o Tribunal de Justiça da Bahia, junto ao governo do Estado, encaminhou à Assembleia Legislativa um Projeto de Lei para a criação de mais de 600 cargos comissionados — sem concurso público. São 600 jabutis, 600 cargos apadrinhados, criados para abrigar amigos, parentes, aliados políticos. Gente que entrará pela porta dos fundos do Judiciário, sem prestar concurso, sem preparo técnico, mas recebendo salários pagos com dinheiro público.
E o mais revoltante: o impacto financeiro dessa manobra vergonhosa é o mesmo necessário para aprovar o Plano de Cargos e Vencimentos (PCV) dos servidores de base! A pergunta é inevitável: qual é a prioridade do Tribunal de Justiça da Bahia? Qual é a prioridade do Governo do Estado? Qual é a prioridade dos deputados estaduais? Pelo que temos visto, não é o servidor que faz a Justiça funcionar diariamente, mas sim os conchavos, os acordos de bastidores, os favores e o velho compadrio político.
E a imprensa baiana? Onde está? Por que se cala diante desse escândalo? Por que não denuncia o projeto de desmonte do serviço público e o completo abandono dos trabalhadores do Judiciário? A resposta é tão clara quanto incômoda: porque boa parte da imprensa está a serviço do governo, silenciada por verbas publicitárias milionárias, que compram manchetes, escondem crises, distorcem a verdade.
Enquanto isso, o servidor vê o salário encolher, vê a comida faltar na dispensa, vê o boleto da escola vencer sem pagamento, o plano de saúde ser cancelado. Vê o esforço de uma vida ser esmagado pela indiferença de um sistema que o usa e o descarta.
Nós não estamos em greve por gosto. Estamos em greve porque não aguentamos mais ser invisíveis. Porque exigimos respeito, dignidade e justiça — aquela mesma justiça que ajudamos a construir, mas da qual somos excluídos quando se trata de reconhecimento e valorização.
A
nossa luta não é apenas por reajuste. É por equidade. É contra o privilégio
institucionalizado. É contra o desvio de função do Estado. É contra o silêncio
conveniente.
É
por sobrevivência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário