quinta-feira, 5 de junho de 2025

ENCONTRO NO MERCADO DE ARTE POPULAR HOMENAGEIA O CORDELISTA ANTÔNIO ALVES


Nesta quinta-feira, 5 de junho, o Mercado de Arte Popular (MAP) está sendo palco de um grande encontro de violeiros, repentistas, cordelistas e escritores. O evento tem como objetivo celebrar a união desses artistas e, ao mesmo tempo, prestar homenagem a Antônio Alves, um dos maiores autores da literatura de cordel da Bahia. Ele residiu por cerca de cinco décadas em Feira de Santana, projetando a cidade nacionalmente através dessa difícil e rica expressão da cultura popular, com mais de 100 obras publicadas.
Jurivaldo Alves da Silva, cordelista e folheteiro atuante no MAP

Apesar de não ser feirense — nasceu em Mata de São João —, Antônio Alves da Silva viveu a maior parte de sua vida em Feira de Santana, contribuindo imensamente para a cultura local e conquistando o título de maior cordelista da Bahia. Por isso, o I Encontro de Violeiros, Repentistas, Cordelistas e Escritores, que acontece hoje no MAP, é uma justa homenagem. A iniciativa é de Aleucik Almeida Santos, presidente da Associação dos Artesãos do Mercado de Arte Popular (ARTMAP), e Jurivaldo Alves da Silva, cordelista e folheteiro atuante no local, que mantém o maior acervo de livros do gênero da Bahia — quiçá do Nordeste.

A escolha do dia 5 de junho não é por acaso: é a data de nascimento de Antônio Alves, que faleceu em Feira aos 85 anos, no dia 14 de agosto de 2013, deixando uma obra robusta com mais de 100 folhetos de cordel — muitos considerados verdadeiras obras-primas do gênero. Com histórias e estórias de amor, paixão e conflitos, mesclando realidade e fantasia, rima e metrificação perfeita, Antônio Alves conquistou espaço nas prateleiras de cordel de todo o Brasil, especialmente em décadas passadas, quando esse tipo de literatura era muito popular nas feiras-livres.

O povo se encantava, rindo, chorando ou temendo, de acordo com os personagens e os enredos dos cordéis. Mesmo quem não sabia ler fazia questão de comprar os livretos — para que alguém os lesse em voz alta, ou simplesmente para possuí-los com orgulho. Um dos maiores sucessos de Antônio Alves foi “Os Perigos de Fenando e Joventina”, inspirado em um fato verídico ocorrido em um meretrício em Feira de Santana, envolvendo o filho de um rico fazendeiro e um pistoleiro. A obra, segundo Jurivaldo Alves — que presenciou o caso —, foi bem romanceada e teve grande repercussão. Outras obras de destaque incluem “O Vaqueiro que Montou o Touro Fantasma e na Mula sem Cabeça”, “Os Coiteiros do Bando de Lampião”, “As Palhaçadas de João Errado”, “O Jegue que Mordeu a Moça na Baixa do Sapateiro”, “O Drama do Caminhoneiro ou o Sequestro de Isadora” e “A Crise na Casa do Pobre e a Promessa dos Políticos”.

Jurivaldo destaca: “Antônio Alves tinha uma facilidade enorme em transformar um acontecimento, até mesmo um fato quase sem importância, em uma história interessante. Ele era como um bom jornalista, sempre em busca de notícias.”

Antônio Alves começou a escrever versos antes dos 18 anos, influenciado por grandes cordelistas como Leandro Gomes de Barros, Manoel Almeida Filho, Erotildes Miranda, João Gomes de Barros, Minelvino Francisco e Antônio Teodoro dos Santos. Filho de agricultores — Ambrósio Prudente da Silva e Leonor Alves do Nascimento —, iniciou sua vida como trabalhador rural, mas logo foi atraído pela poesia popular, ouvida em alto-falantes e nas feiras-livres. Antes de se firmar como cordelista, trabalhou como ajudante de caminhão e recebeu a proposta de um tio, funcionário da Petrobras, para ingressar na estatal. No entanto, sua decisão estava tomada: seguiria na arte. Viajou para o Rio de Janeiro e contou com o apoio do consagrado Azulão da Paraíba (João José dos Santos).

Mesmo antes disso, ainda na adolescência, Antônio já escrevia seus primeiros cordéis, inspirado nos folhetos adquiridos por seu pai no Mercado Modelo, em Salvador. Seu primeiro trabalho foi baseado numa história popular sobre uma jovem que maltratava a mãe. No Rio, aperfeiçoou sua técnica e passou a produzir em grande escala.

Atraído pela tradição da feira-livre de Feira de Santana — que respirava cultura popular —, Antônio Alves se estabeleceu definitivamente na cidade, onde viveu por mais de cinquenta anos. Casado com Maria Rosa Alves, teve sete filhos — quatro homens e três mulheres — e 12 netos. Com sua morte, em 2013, o cordel perdeu um de seus maiores expoentes, ao lado de nomes como Cuíca de Santo Amaro e Rodolfo Coelho Cavalcante.

Hoje, no dia do seu nascimento, Feira de Santana celebra a memória e a obra de Antônio Alves, reafirmando a importância do cordel como patrimônio da identidade cultural nordestina.

Por Zadir Marques Porto

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