Meu primeiro contato com ele foi aos 13
anos. Era uma época em que era “chic” fumar e que o jovem para “provar” que era
macho tinha que fumar, mesmo desafiando os pais. As garotas adoravam e algumas
até fumavam também. Todos sabiam dos males que o cigarro causava. Mas, sabe
como é, né? Jovem é outro papo. É forte, é valente e imortal. Volta e meia um
médico ou um amigo com mais bom senso me alertava: Rapaz, para com essa droga...
isso mesmo, uma droga, é o que o cigarro é.
Eu até que pensava em deixar de fumar,
mas o danado era gostoso depois de uma bebida ou um cafezinho. Também era um
bom companheiro nas noites de frio ou solidão. No campo então, nem se fala.
Certa vez, ainda fumando escondido (?!) dos meus pais, fui passar algumas
semanas na roça e levei dois maços de Holliwood com filtro no fundo da sacola.
Lá chegando, me apressei em esconder os maços no oco de um mourão do curral e
cobri-los cuidadosamente com folhas e papéis. Pela manhã, bem cedinho, tomei o
cafezinho de Balbina e corri pro curral. Quando olhei no oco do mourão só
encontrei farelos. Uma mistura de fumo, papel celofane e laminado, e feltros
dos filtros, que algum rato ou outro animal silvestre cuidadosamente utilizou
para fazer um ninho. Foi aí que um vaqueiro amigo me ensinou a fazer cigarros
com papel seda e fumo de corda. Passei as duas semanas seguintes fumando o
famoso “Bode”.
Às vezes, eu ficava algum tempo sem
fumar para provar para mim mesmo que eu controlava o cigarro e não ele a mim.
Ficava até três meses sem fumar. Definitivamente, não era viciado. Casei com
uma mulher que também fumava. Mas, quando nasceu nosso primeiro filho, eu já
tinha 23 anos (10 anos fumando), pensei: Que exemplo vou dar a meu filho? Não
desejo mal para ele, não vou querer que ele fume. Naquele dia eu parei
definitivamente de fumar. Poucos anos depois a mulher parou também. Não foi uma
separação consensual, foi litigiosa. Eu sonhava com o cigarro, dava belas e
longas tragadas, acordava suando frio e me tremendo todo. Quando bebia qualquer
coisa o apelo era forte. Por fim, ele desistiu de mim.
Agora eu já não tinha crises, tinha
saudades. Cinco anos depois, Dr. Brito me ensinou como lidar com cachimbos.
“Cachimbo não se traga. O sabor fica nos lábios e na boca. Aprendi a misturar
fumos, lavar os filtros do cachimbo, aprendi até a fazer cachimbo. Tem um feito
com galhos de umbuzeiro que é uma delícia. Mas é tudo muito trabalhoso e caro.
Então mudei para os charutos. Mas tenho o cuidado de acendê-los longe das
pessoas que se incomodam (e com razão), e assim mesmo em noites frias, de
preferência no campo ou na praia. De vez em quando, para matar a saudade, eu
ainda acendo um “Bode”, mas a fumaça é da boca pra fora, nunca para dentro.
Eu gostaria que todos tivessem essa
força e essa consciência que Deus me deu que nunca me permitiu viciar em nada.
Gosto muito de beber, mas sempre que tive problemas de saúde, parei de beber
sem traumas. Lembro de uma micareta que passei brincando e bebendo apenas
refrigerante. Foi só pensar: Eu não bebo neste mas bebo em todas as que virão.
E há pensamentos e lembranças que reforçam a minha vontade. Eu vi muita gente
morrer de câncer do fígado, do pâncreas, da garganta, boca e pulmões, por causa
do uso excessivo de álcool e fumo. E, acreditem, não é uma morte simples, natural,
daquelas em que os que ficam costumam dizer: “Morreu como um passarinho”. Não! É
uma morte dolorida e muito sofrida. Tanto para o paciente quanto para seus
entes queridos. Perdi bons amigos dessa forma horrível e triste.
Não desejo isso para mim nem para
ninguém.
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