quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Natal desencantado

         Seguindo a sugestão de uma colega eu quis escrever uma crônica sobre as reuniões familiares que ocorrem em abundancia nesta época do ano. Pessoas viajam até milhares de quilômetros para reencontrar parentes e amigos dos quais há muito se distanciaram. Eu posso lembrar de algumas coisas emocionantes ou engraçadas que me contaram ou eu mesmo vivenciei nestes encontros, mas, são poucas e muito antigas lembranças. Eu escrevo sobre o cotidiano buscando sempre dar um toque de humor nas estórias que conto, mas as minhas lembranças mais recentes não são nada engraçadas. Se eu contasse algumas estórias, mesmo engraçadas, poderia reabrir feridas ou atiçar sensibilidades. Não desejo isso.
         Eu poderia narrar muitas estórias, mas, mesmo que alguém viesse a rir, seria por um humor mórbido. Nestes primeiros 15 anos do século XXI o mercantilismo e a falta de calor humano se acentuaram assustadoramente e o que deveria ser uma época de reencontros, congraçamentos, faz mais abrir velhas feridas, reacender mágoas e rancores, além de evidenciar o quanto as pessoas estão afastadas de Deus, porque simplesmente perderam o fraterno espírito da cristandade. É claro que há muitos festejos, muitas, luzes, sinos, festas, banquetes e presentes, mas tudo me soa tão falso, tão desprovido de verdadeiro sentimento natalino, que eu só vejo frieza e solidão no seio da multidão.
         Uma coisa curiosa é que tecnologias inventadas para aproximar as pessoas estão afastando-as cada vez mais. Lembro do velho japonês que resolveu fechar sua conta em um banco, porque lá na agencia ele só falava com máquinas. “O que me motivava a ir a agencia é que eu podia encontrar amigos, falar com funcionários, interagir com meus iguais. Hoje é tudo automatizado”, lamentou o tristonho ancião. E o que dizer então das pessoas que se reúnem nos bares, praças, restaurantes ou até mesmo em casa, com amigos, e ficam calados, trocando mensagens pelo telefone celular? É triste. Muito triste.
         Quando meu filho caçula ainda era uma criança, eu gostava de montar o presépio e a arvore de Natal com ele, além de colocar enfeites pela casa, enquanto lhe contava histórias de natais passados ou explicava o sentido dos festejos natalinos. Hoje ele está com 20 anos, sabe sobre estas coisas, mas não tem com quem conversar ou compartilhar, porque a maioria dos seus amigos estão tão frios e alheios a estes sentimentos quanto a maioria da população. E não me venham falar dos festejos dos templos religiosos, porque quando observo de perto as pessoas que hoje frequentam estes ambientes, vejo que estão muito mais distantes de Deus do que muitos que não frequentam. É tudo uma questão de entender com a mente e sentir com o coração o significado do Natal.
         Eu não sou um velho frio, desesperançoso e amargurado, apenas estou triste por quase não ter com quem compartilhar o meu entendimento e o meu sentimento nesta época tão rica de amor fraterno, alegria e esperança. E não posso compactuar com a frieza e a falsidade. Lamento não poder atender à expectativa da minha colega.

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