sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Artigo


O Rei está nu

Creio que todos conhecem a história dos vendedores picaretas que venderam a um Rei um tecido invisível aos olhos dos desonestos e mentirosos. Ninguém via o tecido, mas ninguém admitia. Nem o próprio Rei quis admitir que não estava vendo o “tecido” e o comprou para fazer uma roupa digna de um Rei. Quando saiu às ruas para mostrar a sua roupa nova, um garotinho gritou: “O Rei está nu”. Diante da afirmação de um inocente, todos deixaram cair as suas máscaras de hipocrisia.
Em que pese eu condenar a nudez pública de quem quer que seja, no caso do jornalista e cordelista Franklin Maxado, que ficou diante da platéia do festival “Vozes da Terra”, eu vejo (e ouço) um festival de hipocrisias. Pessoas que condenam o seu ato de protesto (equivocado) por pura maldade, inveja, despeito ou sei lá mais que sentimentos vis.
A verdade é que a nudez pública nos é imposta diariamente pelos canais de televisão e publicações penduradas nas bancas de revista. Mas, são celebridades, muitas delas sem nenhum mérito para gozarem da fama que gozam. Bastou a uma mulher, apenas atirar um rojão num jogador chileno, para na semana seguinte estar posando nua numa revista masculina e ganhando rios de dinheiro para isso. O mesmo ocorreu com a Ana Paula bandeirinha de Futebol, ou a Sem Terra, Débora.
O Brasil é assim. Um país de hipócritas, invejosos, despeitados, que aceitam a transgressão de mais comezinhas normas de boa conduta, respeito, moral e ética, desde que não sejam praticadas por pessoas comuns, vivendo muito próximas delas. É algo tipo assim: Se eu não posso, meu vizinho também não pode. Mas se a mídia aprovar, todo mundo segue a onda.
John Lennon dizia: “Vivemos num mundo onde a violência é praticada em plena luz do dia, mas temos que nos esconder para fazer amor”. Não quero discutir o mérito da questão, mas alertar para a mesquinhez que praticamos diariamente em nome de uma moral altamente questionável. Eu já disse que uma das causas da roubalheira e da violência generalizada no Brasil, está na nossa conivência com os bandidos de colarinho branco, na nossa aceitação passiva de tudo quanto se faz de errado no governo, na impunidade. “Se não dá em nada, eu também vou fazer que eu não vou ficar de otário”. Esse é o pensamento geral.
Maxado quis fazer um protesto, e com justa razão, mas, ao meu ver, escolheu a forma, o tempo e o lugar errado. Como homem de letras, intelectual, ele deveria escolher outra forma de fazer vibrar e bater com mais profundidade o seu protesto. Sozinho, meu caro colega, não somos nada. Por isso alguém disse um dia: “Eu não quero ser herói de nada, mas sim a companhia de outros braços”.
Creio ser este o melhor caminho.

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