sexta-feira, 17 de julho de 2009

Crônica da semana


Armando Surdo

Não conheci este personagem, mas por tudo que Ideilton Paim já me contou dele, vale a pena registrar suas estórias, para que não se perca no tempo, até mesmo porque ele já faleceu. Segundo Ideilton, Armando Surdo vivia em Praia do Forte, litoral Norte da Grande Salvador. Por ser surdo, não falava direito. Cerveja era “Pêpa”, freeser era “Fanta”, meu amigo era “moncapiu” e por aí afora.
Certa vez ele chegou no bar do amigo Clemente, a quem ele chamava de “Carapeça”, e começou a tomar umas e outras. Lá pelas tantas, ele já embriagado e enchendo o saco de todo mundo, Clemente resolveu que não iria mais vender cervejas para ele naquele dia. Quando ele pediu: “Carapeça! Me dê uma pêpa”. Clemente disse que a cerveja havia terminado. Armando Surdo não se deu por vencido e falou: “Abra aí a Fanta pra eu vê”.
Também lá em Praia do Forte havia (ou ainda há) um cidadão apelidado de “Dadinho”, que era (ou ainda é) vereador do Município. Armando chegou montado num cavalo, amarrou o animal onde havia uma sombra. Mas, isso foi pela manhã, e à tarde batia um sol forte no local. Armando saiu pelos bares tomando todas as “pêpas” que tinha e que não tinha direito e, quando resolveu ir embora, não lembrava onde deixara o cavalo.
Quando estava procurando, encontrou Dadinho bebendo com alguns amigos à sombra de uma árvore na praça. Armando foi chegando e dizendo:
- Tatinho! Robaram meu carralo.
- Que bobagem é essa, Armando. Quem é que vai roubar um cavalo aqui?
- Robaram sim. E focê tem que dar conta.
- Por que eu, Armando? O que tenho a ver com isso?
- Focê é fereador. Você tem que dá conta!
- Era só o que me faltava. Ô menino! Vai procurar por aí o cavalo de Armando!
Pouco depois o rapaz chegou, arrastando o cavalo que estava com um palmo de língua do lado de fora, morrendo de sede, devido ao sol escaldante. Dadinho então disse:
- Tá vendo aí, Armando. Ninguém roubou seu cavalo.
- Devolveram. Ficaram com medo, porque sabem que focê é moncapiu (amigo).
Mas o pior aconteceu quando ele pediu a Ideilton para arranjar um advogado para providenciar a sua aposentadoria.
- Paim! Focê é capiu daquele político que é advogado. Me apresente a ele, pra ver se ele resolve o meu caso.
Paim, cauteloso, disse:
- Armando, eu posso lhe apresentar a Dr. Higino. Mas, você mesmo conversa com ele. Eu não quero pedir nada para não me comprometer.
E assim foi feito. Quando chegou o dia acertado, lá se foi Paim com Armando para a casa do político. Chegando lá, a casa, como sempre acontece, logo cedo já estava cheia de gente. Dr. Higino estava sentado em seu gabinete, atendendo aos seus eleitores. E antes que Paim dissesse qualquer coisa, Armando se adiantou e, para espanto geral de todos, quase gritando, falou para o doutor:
- Ô Tico! Me abocenta!

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