sexta-feira, 11 de março de 2011

Dia Internacional da Mulher


Sei que serei criticada por muitas mulheres quando lerem o texto que começo a escrever. Mas, mesmo assim, vou usar a arma que tenho para pedir um basta à hipocrisia, a falsidade, que é transmitida todo ano nesta data. 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Todo ano é a mesma coisa. Poderíamos até publicar os mesmos textos dos anos anteriores. As músicas que são colocadas como fundo nos programas de rádio para homenageá-las já não dá mais pra escutar de tão repetidas.

Este ano, como coincidiu com o carnaval, em algumas cidades as guerreiras fizeram algumas manifestações, saindo às ruas em blocos para lançar campanhas contra a violência, pela prevenção do câncer de mama e outras mazelas que atingem as mulheres. Como em toda parte do Brasil, em Feira de Santana, a Câmara Municipal realizou sessão especial onde os 21 edis indicaram uma mulher para receber homenagem pelos serviços prestados à comunidade (teve quem indicasse a mãe e a esposa). Enfim, ouvimos mensagens melosas, grandes elogios, exaltação das conquistas do sexo frágil ao longo dos anos, desde que um grupo de mulheres se rebelou e começou a luta pela igualdade.

Contudo, devo confessar que até preferia voltar ao tempo da vovó, e explico: Quantos desses homens que vivem a proclamar que é a favor da igualdade dos sexos dividem as tarefas domésticas com suas companheiras ou mesmo com suas mães?

Estudos apontam que a má distribuição de tarefas entre homens e mulheres em casa e no cuidado com os filhos é fator limitante para inserção das mulheres no mercado de trabalho, em carreiras com melhor remuneração. Pois é. A inserção precária no mercado de trabalho não se deve apenas ao domínio masculino e a ações discriminatórias do mercado. É a responsabilidade dupla das mulheres que acaba fazendo com que ela se insira de forma mais precária no mercado de trabalho. Elas não entram em condições de igualdade com os homens e também não são remuneradas por conta de cuidados com os filhos, o marido, a casa, com as pessoas doentes e, muitas vezes, com trabalho comunitário. As exceções ficam por conta daquelas que abrem mão de ser esposa e mãe.

Por mais que queiramos, não temos uma varinha mágica que nos permita executar 100% as duas tarefas. Acabamos por negligenciar uma ou outra. E digo isso com conhecimento de causa. Quando atuava como repórter, tinha que entregar minha casa e minha filha ao comando de empregadas. Quando pari meu segundo filho, 14 anos depois, optei por negligenciar o trabalho fora de casa, e passei a assumir tarefas que me permitissem estar mais presente no comando das atividades domésticas, especialmente na educação do meu filho. Quantos homens fazem isso?
O sociólogo e professor da Universidade de São Paulo (USP) Gustavo Venturi destaca em uma reportagem que todo fenômeno de dominação e opressão só ocorre porque aqueles que têm um papel subalterno assumem valores do grupo dominante. “Muitas mulheres contribuem para a reprodução dessa cultura machista, ainda que sofram fortemente suas consequências”, avalia.

Venturi coordenou a pesquisa Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado, feita para a Fundação Perseu Abramo (ligada ao PT) para o Serviço Social do Comércio (Sesc), na qual 30% dos homens se declararam machistas (4% “muito machistas”).

A pesquisa recentemente divulgada pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (aplicada em agosto de 2010) foi comparada a outro estudo semelhante de 2001. Para Venturi, no intervalo de nove anos, foram poucas as mudanças no “consenso” de que são as mulheres que devem cuidar dos filhos desde a primeira infância. De lá para cá, cresceu de 27,3% para 35,2% o número de famílias chefiadas por mulheres segundo dados do Instituto de Estudos do Trabalho e da Sociedade (Iets).

Alguém adivinha por que? Os homens, mesmo os que se declaram a favor dos direitos iguais, nunca vão aceitar ter os mesmos deveres. Aceitam que suas mulheres saiam para trabalhar, mas, querem chegar em casa e encontrar suas refeições preparadas, casa limpa e arrumada, filhos bem cuidados e uma mulher perfumada para lhe dar amor. Daí as mulheres só têm dois caminhos: Ou assumem a chefia da casa e perdem o companheiro e, muitas vezes, os filhos, ou aceitam a dupla jornada e a inserção precária no mercado de trabalho e mantém sua família.
Eu nunca fui e nem serei feminista. Quero sim continuar sendo fêmea. Direitos iguais? E os deveres? Então, concluo que talvez fosse melhor aquelas mulheres nunca terem queimado seus sutiãs.

Maura Sérgia

2 comentários:

Anônimo disse...

Só as lesadas e muito bitoladas podem criticar uma pessoa por estar, tanto quanto qualquer mãe/mulher que trabalhe fora, exausta e cansada de tanta hipocrisia e dizer isso abertamente.

Porque, é muito fácil querer fazer a forte, a linda, a poderosa quando se é solteira, quando não se tem filhos, quando se tem empregadas para fazer todo o serviço doméstico.

Só quem vive essa sobrecarga sabe que essa pílula dourada é amarga e indigesta.

Beijos!

Regi disse...

Concordo plenamente!
Trabalho viajando bastante e meu marido fica (á noite) com nosso filho e ainda a irmã dele vai ajudar. E quando é sexta-feira que volto BASTANTE cansada ele olha para mim e diz "É todo seu, pois cuidei a semana toda"! Pode!!