segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Crônica de segunda

 Manchetes

         Me sento à frente do computador e dou de cara com a manchete: Encontrada uma praia... em Marte. A notícia da descoberta de uma nova praia só seria manchete no noticiário se fosse uma coisa assim paradisíaca, intocada pelos seres humanos etc. Daí a minha frustração. Mas, peraí! De toda sorte é uma novidade, pois sempre se disse que não há água em Marte. Isso justificaria a Manchete. Mas, é uma praia subterrânea. Antes que a minha frustração aumentasse ou minha cabeça sofresse um lockdown, eu desisti de ler o resto. E fiquei lembrando que, nos anos 60, o governo do Rio de Janeiro fez estardalhaço nos meios de comunicação para informar que, com as novas obras e ações do seu departamento de água e saneamento, a cidade não sofreria com falta d’água até o ano 5.000. Erraram por uns 3 mil anos. Pobre ex Cidade Maravilhosa. Ainda nos anos 2000 a população só encontra nas torneiras o suficiente para aquela moça sortuda do “bingo” lavar  a “cartela”.

         Para os idosos, pouca coisa é digna de manchete, principalmente idosos jornalista aposentado como eu. O que chama a tenção da maioria das pessoas eu passo por cima. Não caio mais na pegadinha “Cachorro fez mal a menina”. Quem é do ramo sabe do que estou falando. Eu andei escorregando em algumas cascas de banana quando me iniciei nas redes sociais. Mas ligeirinho comecei a passar direto por cima de manchetes dos canais ditos noticiosos do you tube, do tipo: “Estourou agora”! “Gravíssimo” “Presidente dá um basta”; “General dá ultimato”. Tudo balela pra chamar a atenção. O leitor incauto acessa, o dono do canal recebe um dinheirinho por isso, e quando o leitor lê a “notícia”, se decepciona, porque foi um cachorro quente que fez mal pra menina que o comeu. Não há nada de grave ou gravíssimo, e na maioria das vezes (e isso é desonestidade) é notícia requentada ou então alguém que não sabe escrever publicou algum texto que viu em algum lugar e não deu o crédito ao autor, assumindo como se fosse da sua própria lavra. E além disso, eu tenho visto muito jornalista bom, por falta de assunto, requentando matérias, porque o leitor não pode passar sem suas doses diárias de más notícias. Sim, porque notícia boa não gera pontos nas pesquisas.

    Podem conferir. Só notícia ruim desperta a tenção do leitor/ouvinte/telespectador. Daí que os noticiários matutinos abriam com notícias policiais. Porque, uma vez sintonizado na frequência, parece que a pessoa esquece que tem um botão no aparelho que muda de canal. E eu disse que abriam, porque isso era antigamente. Hoje em dia abrem com o obituário de mortes por Covid-19. Como eu não tenho paciência nem estômago para a “Imprensa Funerária”, só acesso os programas depois de meia ou uma hora de começados, que é quando começam a aparecer algumas notícias interessantes.

Manchetes que estão muito “na moda” são do tipo: “Xeque-Mate. Acabou pra Dória”; Fim do jogo. Acabou pra Bolsonaro; STF cercado”. Tudo conversa mole pra boi dormir. Ou como dizem os babacas politicamente corretos: Colóquio malemolente para dormitar bovinos. Não derrame seu uísque ou sua pinga da boa em vão. Não aconteceu nada, absolutamente. É só jogo de desinformação para confundir a opinião pública. E se você acessa, só vai contribuir monetariamente para enriquecer os canalhas de plantão. Você sabia, por exemplo, que cada vez que você acessa ou posta alguma coisa utilizando o nome do maior ladrão do Brasil, você está depositando uma graninha na conta do PT? Pois é meu incauto, a esquerda monetizou a “Marca do “G”ula.

E pra encerrar essa crônica, eu vou falar sobre um amigo meu, muito capadócio, que na falta do que fazer, enquanto aguardava a esposa no armazém onde ela fazia compras, viu um jornal velho sobre o balcão, começou a folhear e, de repente, “leu” em voz alta a seguinte “manchete”; Mãe dá 150 facadas no filho, e bebe o sangue! Largando, em seguida, o jornal em cima do balcão e se afastando de mansinho para ficar olhando, de longe, a disputa pelo jornal, por parte dos demais clientes da loja.

   

NE: Publicada em 2021.      

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