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O objetivo de um abrigo, o que é bastante explícito, é oferecer proteção a pessoas ou animais contra as intempéries |
O objetivo de um abrigo, o que é bastante explícito, é oferecer proteção a pessoas ou animais contra as intempéries e, em se tratando de período de guerra, um local geralmente subterrâneo, onde o povo pode se manter em segurança. Naturalmente, os combatentes também buscam proteção contra as forças adversárias e se abrigam, havendo inclusive abrigos antiaéreos. Mas, em Feira de Santana, surgidos provavelmente a partir da década de 1940, quatro grandes abrigos urbanos tinham outros objetivos.
Sobretudo, funcionavam como receptores, congregando visitantes oriundos de locais diversos, oferecendo café, lanches, refeições frugais e eram onde ficavam os passageiros esperando alguma forma de transporte. Em Feira de Santana, eram quatro abrigos: o Nordestino, na Praça Dom Pedro II, que foi demolido para a construção de uma loja de confecções; o Santana, localizado na Praça João Pedreira, próximo à Prefeitura Municipal, também demolido em 1991 para a instalação do monumento *Todos os Caminhos*, do artista plástico e arquiteto Juracy Dórea; restando o Marajó e o Predileto.
A origem dos abrigos não é bem clara, mas pode estar relacionada, de algum modo, com o transporte ferroviário. O engenheiro e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana, Gerinaldo Costa, observa que todos esses abrigos tinham em comum um desenho ‘retangular com as bordas circulares’, sem características arquitetônicas bem definidas, ‘nem barroco, nem colonial’, e para ele, havia uma espécie de conexão entre as antigas estações ferroviárias e os abrigos, que “também serviam como ponto de reunião de passageiros”.
Lembra que, na cidade de Salvador, havia, na Calçada, com destino à Cidade Alta, na época dos bondes elétricos, um desses equipamentos (abrigo), semelhante aos existentes em Feira de Santana, o que reforça a ideia de uma relação, pelo menos arquitetônica, entre as edificações. Na prática, em ambos os casos, passageiros se reuniam nesses locais e, enquanto aguardavam transporte, conversavam e faziam refeições.
No caso da cidade princesa, muitos ainda lembram que, no Abrigo Santana, funcionava um serviço de alto-falantes e ali até havia apresentações de cantores na marquise do estabelecimento, sempre com a presença de grande público. O Abrigo Predileto, ainda em perfeito funcionamento, tornou-se inesquecível tanto para a população feirense como para os visitantes, devido ao sorvete (vários sabores) com doce de leite. Durante décadas, esse autêntico manjar capitalizou as atenções, havendo momentos de aglomerações no Predileto.
Com o tempo, os hábitos mudam, mas os que viveram décadas atrás têm perfeita lembrança da importante presença dos abrigos no cotidiano da urbe, em especial nos dias de segunda-feira, até próximo aos anos da década de 1980, mais precisamente até 1977, quando o centro da cidade vivia a maior feira-livre do país, e o Abrigo Predileto funcionava como um ponto de convergência, atraindo feirantes, agricultores, fazendeiros e visitantes. Sob o sol escaldante, era um oásis, com água gelada, refrigerantes e sorvete com doce de leite! Mesmo com o deslocamento da feira-livre para o Centro de Abastecimento em 1977, pelo prefeito José Falcão da Silva, durante algum tempo os frequentadores do abrigo continuaram a prestigiá-lo.
Por Zadir Marques Porto
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