sábado, 15 de fevereiro de 2025

ENGENHO VELHO - UMA MOENDA DE SONHOS DE JOVENS TALENTOS MUSICAIS


Um lugar aprazível onde a boa comida e a música estavam presentes. Foi, também, há quase seis décadas, uma espécie de ‘faculdade’ de formação musical, que deu regra e compasso a jovens talentos como o hoje famoso Jurandy da Feira. O Bar Restaurante Engenho Velho não resistiu ao tempo, mas ficou na história da Princesa.

Engenho Velho. Uma expressão que parece retirada de um conto marcado pela regionalidade da época dos coronéis do ciclo da cana, quando os grandes engenhos propiciavam riqueza para os abastados e contínua dependência para os pobres e agregados. Engenho Velho, talvez não seja difícil encontrar essa expressão, que soa de forma poética e rememorativa, em textos de extraordinária qualidade de romancistas como José Lins do Rego, José Cândido de Carvalho, Ariano Suassuna, Guimarães Rosa, Rachel de Queiroz e outros imortais das letras. Mas, nesse caso, estamos falando não de uma moenda de cana-de-açúcar, mas de uma casa que marcou Feira de Santana na década de 1970.

Instalado na Rua São Domingos, no bairro Capuchinhos, o Bar e Restaurante Engenho Velho surgiu do idealismo de Djalma e Luís, empresários que tinham uma loja, ou fábrica de mesas de bilhar, na Rua Deputado Melo Lima, que liga as Ruas Conselheiro Franco e Desembargador Filinto Bastos (Rua de Aurora). Com uma proposta arquitetônica modelada na sua origem morfológica, o Engenho Velho ganhou a simpatia dos frequentadores de bares e restaurantes da cidade, especialmente da sociedade, pela ideia de interagir as refeições com boa música ao vivo.

E foi nesse ambiente que surgiram valores como Jurandy da Feira. Vindo de Tucano aos 18 anos, ainda era Jurandy da Viola e transitava pela MPB, mas ganhou cancha no Engenho Velho, tornando-se a principal estrela de um universo que logo teria outros astros como Cescé, Carlos Pita, Gereba, Leguelé da Bahia, Vicente Barreto, Marcelo Melo, Israel Exalto, Cacau da Bahia. Nas noites de sexta-feira e sábado, a sociedade feirense acorria ao Engenho, programa certo e imperdível para muitos. E lá estavam empresários, médicos, advogados, professores, universitários. Era de ‘bom tom’ frequentar o Engenho Velho, lembra Jurandy da Feira, que tem profunda ligação com a casa a ponto de homenageá-la com uma bela composição com o mesmo nome.

“Foi ali com seu Djalma e Luís que eu comecei, vindo de Tucano. Ali conheci José Malta e Vitalmiro Cunha e com eles fui a Exu, conhecer Luiz Gonzaga, que me pediu uma música, uma composição, ‘No Cafundó do Bodocó’, que foi a primeira música de minha autoria que ele gravou. Depois vieram outras. Também foi Luiz Gonzaga que colocou Feira em meu nome artístico. Passei de Jurandy da Viola para Jurandy da Feira”. O artista, que está sempre vindo a esta cidade para rever familiares, disse que já pensou em tentar reabrir o estabelecimento, mas não foi possível.

O maestro Israel Exalto, que várias vezes ali se apresentou como músico e cantor, com repertório internacional, do mesmo modo, externa boas recordações. “Era um local aprazível, tinha um excelente serviço de restaurante e, para nós músicos, um espaço externo bem ventilado para as nossas apresentações. Apresentava rusticidade que coadunava, propositalmente, com o nome, mas era um local excelente”, destaca. No Rio de Janeiro, Cacau da Bahia, compositor, cantor e violonista, completa: “Para nós músicos, foi muito importante, é difícil esquecer o Engenho Velho”, garante. 

Desse modo, não apenas para frequentadores, mas para jovens artistas da época, o Engenho Velho foi um cenário inesquecível pela oportunidade que nele tiveram de desenvolver seu trabalho musical e crescer.

Por Zadir Marques Porto

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