* Se eu soubesse *
Na
vida há hora para tudo e tudo o é na medida certa.
Nada adianta
blaterar, praguejar, espernear, reclamar, falar mal, chorar, ante as
adversidades e vicissitudes do viver. O certo é tomar conhecimento, dia mais,
dia menos, em nossos relacionamentos, poderemos ser assaltados por
imprevisíveis circunstâncias, motivadoras da sensação de beco sem saída.
Pura ilusão.
Há sempre uma área de escape, se não for física, poderá ser engenhosa. A mais eficiente e estratégica das saídas será, sempre, pedir-se perdão. É claro, isto não ser coisa fácil. Tal gesto, implica reconhecer nossos erros ou desvarios: por ações ou omissões.
Em verdade, depois
de conseguirmos superar o estágio do respeito humano e pedir perdão, quem nos
mira, passa a ver-nos com outros olhos. É algo quase mágico. A partir de então,
as aflições atenuam-se, evaporam-se, sublimam-se. Convertem-se em desaflições.
Lembro bem.
Certa feita, como
era hábito, fui visitar minha segunda ex-mulher. Era ela, então, casada com simpático
argentino, agora defunto, a mim afeiçoado por nutrirmos comuns pontos de vista.
Estávamos à casa da qual eu abrira mão, quando de nossa separação amigável.
Como nunca nos inimizamos, sempre mantivemos espaço a diálogos confessionais.
Sentados à sala de
visitas, quase formais, comentei desejar pô-la a par de fato acontecido durante
nossa vivência conjugal.
Respondeu-me – de
súbito –, partido de mim nada a surpreenderia. Senti-me à vontade e também de
chofre, informei-lhe que, fruto de relação extraconjugal, aos 40 anos, eu
houvera sido pai de uma menina, sendo a dita, portanto, da mesma idade de nosso
último filho.
Ela, em postura
soberana, sem denotar qualquer emoção, ao invés de - como seria compreensível –
valer-se do momento para trazer à tona eventuais ressentimentos, amigavelmente,
aconselhou-me a logo apresentar a menina a seu irmão contemporâneo. Completou,
afirmando: “Você sabe, vivemos em um mundo muito pequeno, sendo melhor informar
antes, depois poderá ser tarde demais”.
O desdobramento de
tal providência representou agradável e inesquecível acontecimento, fotograficamente
documentado, quem sabe para registrar em outra oportunidade.
Para encerrar, vale recordar:
ao nos despedirmos, fitando meus olhos, ela comentou algo luzindo a uma
declaração de amor extemporânea, mas agora ao escrever estas linhas,
transcorridos incontáveis anos, concluo ter sido, simples reflexo de sua
maturidade. Disse-me ela. “Se eu soubesse você iria mudar tanto, teria tido
mais paciência com você!”
Ponto final.
Se eu soubesse o que
ora sei, não sei se agora estaria onde estou.
Hugo A. de
Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de
charutos Menendez & Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos
Campos – BA.
Um comentário:
Coisas da vida! Não nos cabe saber o que não experimentamos.
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