
Saindo de Feira de Santana na primeira cidade onde ele parou havia um grande show na praça, com diversas atrações de nível nacional. Ivete Sangalo, Chiclete com Banana, Cláudia Leite e Timbalada, entre outros. Ele parou, pensou um pouco e se questionou: “Ué. O Carnaval aqui acontece em pleno São João”? Através de um folião ficou sabendo que não era carnaval fora de época, mas festa de São João mesmo. Pra quem esperava ver e ouvir Dominguinhos, Adelmário Coelho, Alcimar Monteiro, Del Feliz e companhia, foi demais. Pegou o carro e se mandou dali. Antes de deixar o posto um traficante ainda o abordou: “Vai um lança perfume aí”?
Havia outra cidade ali perto, também muito famosa pela animada festa de São João que realizava. Quando foi entrando na cidade um foguete que perdera flexa passou desgovernado pela frente do carro, rodopiou no ar e veio em direção ao carro, batendo na janela e tomando outro rumo. Se a janela do carro estivesse aberta com certeza causaria queimaduras nos ocupantes do veículo.
Quando chegou ao centro da cidade antes que se desse conta do que estava acontecido, viu-se no meio de uma guerra de espadas, que era a principal atração do lugar. As espadas rodopiavam loucas pelas ruas, causando estragos e queimaduras por onde passavam. Graças a Deus ele conseguiu escapar apenas com algumas queimaduras na pintura do carro.

Mas, pelo menos, fogueiras, comidas e bebidas típicas, havia de fartura. Ele resolveu então comer um pouco. Encarou um cuscuz com ensopado de bode. Quando deu a primeira garfada, se arrependeu. O cuscuz não era de milho ralado ou pilado, mas de milho seco industrializado e pré cozido, que fica com aquele gosto de coisa velha. Aliás, todas as demais iguarias feitas à base de milho eram assim.
E o ensopado de bode? Horrível, feito com carne de bode criado confinado, na base da ração, abatido em frigorífico e embalado a vácuo, o que deixa a carne sem sabor, com aquele gosto de palha, típico das “carnes mortas”. Pra tirar o gosto ruim da boca ele resolveu tomar um gole de licor de jenipapo. Foi pior, de jenipapo o tal licor só tinha a essência sintetizada, nada de licor feito da fruta.

Grupos de homens portando antigos bacamartes de encher pela boca, carregados apenas com pólvora, para tiros de festim, simulavam antigas batalhas dos tempos das lutas pela independência do Brasil. Chegou tarde, mas ainda em tempo para o espetáculo.
Mas havia algo estranho no ar. Tudo estava muito quieto. Era como se a festa tivesse acabado ou nem sequer acontecido. No posto de combustíveis alguém lhe informou que a Polícia havia feito uma blitz e prendera todos os bacamarteiros por “porte ilegal de arma”.
Chegou em casa, cansado, alta madrugada, botou um CD de Luiz Gonzaga pra tocar, tomou um licor de jenipapo feito, da fruta, por uma tia que morava num sítio fora da cidade, e comeu um pedaço de bolo de aipim que sua mulher havia feito, com umas raízes de aipim que sua tia lhe mandara de presente juntamente com alguns cocos secos, que foram devidamente ralados e tiveram o leite extraído, aproveitados na confecção do bolo. Foi dormir agradecendo a Deus porque ainda não sintetizaram o aipim e o coco.
Cristóvam Aguiar
Cristóvam Aguiar
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