quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Eu digo que o papai chegou – e as crianças correm para o computador

Há pouco mais de 15 dias passei a viver uma situação inédita em minha vida. Meu marido está trabalhando em outro estado – e eu continuo em São Paulo, com as crianças, trabalhando bastante e contando com todo tipo de ajuda para cuidar deles, mãe, sogra, empregada. A situação deve continuar assim pelos próximos 330 dias, ou até o fim deste ano, com encontros presenciais a cada 15 dias ou até 30 dias.

Antes de ele partir, a gente comprou uma câmera de alta definição, acertou o Skype e fez um plano telefônico de DDD ilimitado. Tudo para tentar se falar o máximo possível, para as crianças se sentirem mais próximas do pai e a saudade não apertar tanto.

Após 15 dias – de encontros apenas virtuais – estou certa de que tudo seria pior se eu não pudesse vê-lo pelo monitor. Mesmo assim, não consigo (e acho que não vou conseguir nunca) me acostumar com o “blupt” de quando a gente se desconecta e a tela fica preta. O menor (de 2 anos) diz: “acabou o papai” – vira as costas e vai buscar um brinquedo. A mais velha (de 7 anos) imediatamente assume o comando do mouse e abre uma janela do Google Chrome. Busca algum site de jogos. O entusiasmo é o mesmo do que quando falou com o pai.

Estranho. Para mim, estranho demais. Ultimamente, quando pergunto às crianças se querem ver o pai, os dois correm para o computador à espera de um sinal. Colocam o fone de ouvido e se sentam na cadeira, como se dali partissem para uma viagem intergaláctica. A mais velha às vezes abre a janela para chat, já prevendo que a conexão possa estar lenta por causa da chuva, que deixa o áudio picotado.

Na despedida, os pequenos se aproximam da câmera para dar um beijo de boa noite no pai. A naturalidade me comove. É bom para eles, concluo. Falar pros amiguinhos de escola que o papai fala pelo computador de um outro lugar do Brasil é “da hora”.

Sei que sentem falta da presença física, especialmente naqueles momentos em que costumam ficar juntos só os três: nas quartas e quintas-feiras, em que o trabalho da redação se estende até às 21h ou mais.

A boa notícia é que este fim de semana será um daqueles em que não quero chegar nem perto do computador. Vamos buscar o papai no aeroporto. A tecnologia está nos ajudando a vencer um pouco a distância. Mas se eu pudesse fazer uma troca, preferiria que ela não existisse e estivéssemos os quatro aqui, juntos.

Luciana Vicária é editora-assistente de ÉPOCA em São Paulo

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