terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O “Boneco”

E mais uma vez o Brasil não ganhou o Oscar. Isso já está virando uma obsessão nacional.  A tão sonhada, desejada, pleiteada pelos profissionais da arte cinematográfica ficou para  um filme americano. “The Artist”. Sérgio Mendes, brasileiro radicado nos Estados Unidos há muitos anos, e o timbaleiro baiano, Carlinhos Brown, disputavam com outro concorrente o prêmio de Melhor Canção Original, pela autoria da música do filme “Rio”, dos estúdios Disney. Perderam para a música do filme “The Mupets”.

            Em que pese a frustração de cariocas e baianos, o que eu gostei mesmo nessa estória toda, foi das declarações da mãe de Carlinhos Brown. Aliás, o próprio Brown já havia me surpreendido com a serenidade com que enfrentava a expectativa, demonstrada em suas declarações à Imprensa, nos momentos que antecederam a cerimônia de entrega do prêmio.

            Quando o prêmio não veio, a mãe de Brown demonstrou a mesma serenidade que ele. Disse ela, não necessariamente com essas palavras: Meu filho é humilde, veio de uma família humilde e trabalhadora. Se ele não ganhou o “boneco” (sic) não tem importância. Ele já conquistou muito e ainda virão outros prêmios que ele irá ganhar. Isso não é o mais importante.

            O “boneco”. Sim, foi assim que ela se referiu à estatueta da Academia de Artes de Hollywood. Não deu importância maior do que o que devia. Creio que esse é um segredo das pessoas felizes. Não importa raça, credo ou posição social. As pessoas felizes não dão maior importância às coisas e aos acontecimentos, do que a que eles realmente merecem. Elas sabem que tudo passa e a vida continua.

            Momentos bons e ruins se alternam diariamente em nossas vidas, e saber ou não lidar com eles vai determinar o grau do estresse que vamos acumular, e que irá, infalivelmente, influenciar na saúde do corpo, da mente e do espírito. Vi na mãe de Brown a mesma serenidade que vi no rosto do filho do militar brasileiro morto no incêndio de uma base militar na Antartida. Claro que ele está triste pela perda do pai, mas preferiu honrar sua memória citando fatos que o enaltecem, como homem correto, bom pai, bom filho, bom marido, bom amigo, do que mostrar para as câmeras o desespero inútil por uma perda que, cedo ou tarde, aconteceria, bem ou mal.

            Eu conheci um prefeito daqui do interior da Bahia, que tinha uma sala cheia de troféus, de todas os tamanhos e cores. Alguns ele realmente ganhou em torneios de lutas marciais ou em exposições de cavalos de raça. Mas a maioria ele comprou. Era obcecado por homenagens e troféus de plástico. Eu já disse aqui e vou repetir. Quando a luta defende a honra, a vida, ela representa alguma coisa. Quando defende um troféu de plástico, ela não representa nada.

            “Bonecos” podemos comprar às dúzias nas boas casas do ramo. A preços módicos, bem baratinhos.

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