Para entender o que está acontecendo agora, é só olhar para o histórico
de qualquer país que já passou por estagflação. Os EUA dos anos 70, por
exemplo. O país tinha jogado todas as fichas no crescimento da
indústria, principalmente a automobilística. E boa parte da energia para
mover esse crescimento vinha de termelétricas a diesel. Então chegou a
Crise do Petróleo, o preço do barril quadruplicou, e ferrou tudo: a
demanda por carros caiu e o preço da energia subiu, encarecendo os
custos de produção de tudo. As fábricas passaram a produzir menos.
Vieram as demissões. Então o consumo caiu, a produção baixou de novo. E
mais demissões… Mas o dinheiro que o governo tinha criado para fomentar a
indústria não deixou de existir. Continuou circulando de um jeito ou de
outro. Só que agora, que a quantidade de dinheiro era maior do que a
quantidade de produtos para comprar com esse dinheiro, os preços
começaram a subir.
A solução? Passar o aspirador financeiro e tirar dinheiro de circulação,
aumentado os juros. Isso acabou controlando a inflação, mas aprofundou a
recessão mais ainda, porque uma hora acaba faltando dinheiro na praça.
Por essas, a economia lá só entrou mesmo nos trilhos depois de 15 anos,
na década de 90.
No Brasil, a aposta foi no petróleo, no ferro, nos produtos agrícolas.
Então veio o xisto, e o petróleo caiu de quase US$ 200 para US$ 50, mais
recentemente, US$ 40. Mais um pouco e o preço do barril não paga mais o
custo de extração do pré-sal – dada a lisura dos contratos assinados
com as empresas responsáveis, o custo real talvez seja mais alto do que
os US$ 9 que a Petrobras divulga.
Bom, o ferro e o agronegócio também se complicaram. Não só por causa da
desaceleração do nosso cliente número 1, a China, mas pq a China não é
besta: passou a extrair minério na Mongólia, e produtos agrícolas na
África, reduzindo a dependência que tinha do Brasil. As bases que tinham
imaginado para sustentar o nosso crescimento de longo prazo ruíram
ainda no curto prazo.
Tudo isso diminuiu o fluxo de moeda forte para o Brasil. O dólar subiu,
encarecendo o custo de investir em máquinas e outros insumos de fora. E a
produção foi caindo. Mesmo assim, o dinheiro criado via BNDES, isenções
de impostos e crédito ao consumidor para fomentar o crescimento não
deixou de existir. Continuou circulando de um jeito ou de outro. Mas
agora, que a quantidade de dinheiro, é maior do que a de produtos para
comprar com esse dinheiro, ferrou: inflação. E com o PIB caindo.
O único jeito, agora, de consertar nossa estagflação é fazer basicamente
o que os EUA fizeram lá atrás (e que qualquer país são faz): juro lá em
cima, e só voltar injetar dinheiro de novo na economia quando o
suprimento de moeda estiver a par com a produção. Mas isso demora. Lá,
foram 15 anos. Aqui pode ser menos, pq o mundo é bem mais acelerado
agora, 40 anos depois. Mas se a única coisa que o Brasil fizer em
relação a isso for se engafinhar numa luta insana por poder, aí não tem
jeito.
]
De um lado, Dilma resiste a uma eventual renúncia por valores pessoais
(Nixon renunciou por menos – é do jogo abandonar o barco pelo bem da
governabilidade quando a sua casa cai). De outro, a Câmara pratica uma
política de terra arrasada, também por uma questão pessoal – o projeto
de poder de seu presidente, Eduardo Cunha. É um cabo de guerra que só
retarda qualquer solução para o que realmente interessa. Continuando
essa toada, neste e nos próximos governos, aqueles 15 anos que os EUA
levaram para voltar aos eixos vão parecer uma marolinha temporal. Dilma,
Cunha, Aécio, Temer… Todos já terão saído da vida para entrar no limbo
do esquecimento que a história reserva às figuras sem brilho nem estofo
intelectual. E a nossa economia ainda nem vai ter recebido alta da UTI.
Por
Alexandre Versignassi Super Interssante
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