quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Gaúcho cria inseticida contra malária e quer testá-lo contra zika no Brasil



No final da década passada, o gaúcho Agenor Mafra-Neto recebeu a notícia de que, em um curto espaço de tempo, uma irmã morando no Rio e um irmão em São Paulo contraíram dengue.
Já trabalhando em projetos de ecologia química relacionados ao uso de semioquímicos (substâncias ou compostos envolvidos na comunicação entre seres vivos), ele decidiu então estudar um método alternativo de combate ao mosquito Aedes aegypti que combinasse eficácia com baixa agressividade ambiental.
Uma guinada profissional fez com que desse projeto pessoal nascesse um inseticida que oferece uma nova esperança de combate à outra doença transmitida por mosquitos: a malária, cujo total de vítimas fatais no mundo, segundo as estatísticas mais recentes da Organização Mundial da Saúde (2015) foi de 438 mil - 70% delas crianças de menos de cinco anos de idade.
Mas Mafra-Neto ainda não tirou o aedes da alça de mira. Em especial depois de o mosquito também assolar o Brasil com o vírus Zika.
"O aedes e a dengue foram a minha epifania: queria fazer alguma coisa para combater os problemas causados pelo mosquito no Brasil", afirma Mafra-Neto, em entrevista à BBC Brasil, por telefone, de Washington.

Apoio de Bill Gates
O desenvolvimento do inseticida sofreu uma mudança de foco quando o projeto levado a cabo pela empresa comandada pelo brasileiro, a Iscatech, recebeu fundos da Bill & Melinda Gates Foundation.
A fundação do bilionário americano, dono da Microsoft, tem a erradicação da malária como um de suas principais bandeiras.
Mafra-Neto e sua equipe puseram mãos à obra, então, e criaram o Vectrax. Em testes de laboratório, o produto teria exterminado entre 70% a 80% dos mosquitos transmissores da malária, o anófeles.
Mas o que chama mais a atenção é a promessa de uma "malandragem": o inseticida atrai os mosquitos ao simular odores e sabores de néctar, produto que as fêmeas precisam consumir com frequência antes de atacar humanos. Entre machos, o efeito foi o mesmo.
"Assim como abelhas, mosquitos se alimentam de néctar. Nós usamos uma combinação de odores de flores, açúcares e proteínas e uma quantidade mínima de inseticida tradicional para atrair o mosquito para os pontos de dispersão. Isso é muito mais preciso. Tivemos a preocupação também de desenvolver um produto que não afetasse outros insetos que se alimentam de néctar, como as abelhas", explica.
Segundo o cientista brasileiro, o produto poderá ser vendido a baixo custo.
"Em um litro de Vectrax diluído, por exemplo, há menos de 1% de inseticida, o que reduz tanto a agressividade ao meio ambiente quanto o custo, para coisa de centavos por garrafa", afirma.
O Vectrax foi testado entre outubro e julho na Tanzânia, país africano em que a malária é endêmica em algumas regiões. Os testes envolveram oito vilarejos (quatro receberam o tratamento, a outra metade não), e a equipe da Instatech constatou o que considerou uma queda que levou a incidência a "perto de zero" nos locais tratados. Leia mais no BBCBrasil.

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