
Como acontece com todos nós que passamos a envelhecer com o dobro da
rapidez de antigamente, cheguei atrasado nesta revolução tribal e “para
sempre” me parecia uma ilusão amorosa cabível em todas as bulas, ainda
que a serpente e o paraíso tenham nascidos ao mesmo tempo.
Contrário ao inevitável, embora a nação tribalista torne equivalentes
os toques, a sensação de re-encontro, e completude de si mesmo no ter o
outro, ainda acho que só um(a), único(a), pode completar a tradução
final de todos seus ensaios e de todos os sinais que decifram sua
linguagem, a sua alma de dia chuvoso.
Porque é assim, sabem as mulheres. Contra todas as probabilidades e as
variações da fome, e, às vezes, contra as recomendações técnicas de suas
razões e de suas possibilidades, você, “de repente, não mais que de
repente”, por uma canção, um olhar, uma dança, um som de violino
enfeitiçado, se perde, se deixa domar enlouquecida e indefesa, por
aquele outro. Dure cinco dias ou anos.
Quem encontra esse caminho sabe que nunca mais vai poder voltar. Ou,
pelo menos, não inteira. Sabe que as pegadas sobre o vento não deixam
marcas visíveis ao retorno, que não há fios de Ariadne a conduzir sua
salvação. Ao contrário dos outros náufragos, não poderá ser resgatada. E
quando rasga a roupa e os limites e prova, enfim, das dores e delícias
de ser mulher, descobre a especiaria que é viver. No deslumbramento de
loba indefesa, quer apenas ficar na armadilha, e, mesmo sabendo que tudo
é renúncia, conjuga senzalas e senhores e não será mais de ninguém, sem
ser dele. Ou ele, de uma mulher.
Ainda que se parta, que andeje por todos os lugares, sabe que será
aquele seu mestre de cerimônias, referência emocional, e, mesmo sendo
tribalmente de todos, ou de um, será em todos, ou em um, ele, ou ela,
também.
É a condenação e a glória da paixão. Abandono e perenidade. Letra,
música e lágrimas. Como nódoa, não se desvencilhará deste segredo da
memória, dos nós, dos dois, porque como sabem a ciência e a filosofia de
bar, quem se reparte, só o faz a partir dos seus domínios anteriores,
já, todos, possuídos.
Você, se já provou do veneno divino de amar assim e ele acabou antes do
fim, por alguma razão ou por falta delas, sabe que existir será apenas
um despedir sem fim. A sensação de que falta algo, que inquieta. Quem te
encontrar depois, ao contrário da apologia dos tribalistas, saberá que
se pode ser só de um, ou de uma, mesmo estando em outro alguém, e que te
lerá, apenas como a dor do achado tardio. Porque, como diz Adélia
Prado, “o que a memória ama, fica eterno”.
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