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Divaldo Franco ficou conhecido mundialmente pelos ensinamentos espíritas e publicou mais de 250 livros Crédito: Divulgação |
Os traços do espiritismo apareceram cedo na vida de Divaldo Franco. Ainda em Feira de Santana, sua cidade natal, transmitiu uma mensagem da avó materna já falecida à sua mãe, aos 4 anos. Foi a primeira das muitas visões que teria ao longo da vida. Divaldo esteve sempre acompanhado de Joanna de Ângelis, sua mentora espiritual, e, através dela, psicografou mais de 70 livros, traduzidos em 15 idiomas. No mundo físico, seu parceiro foi Nilson de Souza Pereira (1924-2013), com quem fundou a obra em conjunto.
A
obra completa de Divaldo conta com mais de 250 livros publicados, que o fizeram
famoso no Brasil e no mundo. Teria sido através da sua mentora que Divaldo
Franco idealizou o projeto socioeducacional que culminou na Mansão do Caminho e
no Centro Espírita Caminho da Redenção.
Tudo
começou com um orfanato em um sobrado na rua Barão de Cotegipe. Mas foi com a
transferência para o terreno no bairro Pau da Lima, que a Mansão do Caminho
cresceu. Ao longo de 70 anos, o espaço se tornou referência em obras de
caridade. Atualmente, são 44 edificações distribuídas em uma área verde de 78
mil m². Mais de cinco mil atendimentos são realizados todos os dias, nas áreas
de educação e saúde.
O
espaço talvez não tivesse virado referência caso não fosse a presença constante
do seu fundador. Divaldo Franco sempre fez questão de estar próximo de quem
buscava sua mentoria espiritual ou ajuda material. Passou, inclusive, os
últimos dias de vida em sua casa dentro da Mansão do Caminho, ao lado de duas
escolas e do jardim onde o espírito de Joanna de Ângelis tem o costume de
aparecer, segundo contava.
“Inicialmente,
ficaremos com uma lacuna porque as pessoas sempre ficam aguardando um
substituto. Nós não temos substituto. Temos trabalhadores, voluntários,
colaboradores que seguirão a proposta que ele iniciou”, continuou Tânia.
A
diretora-tesoureira frequenta a Mansão do Caminho desde os 2 anos de idade e é
trabalhadora voluntária da instituição há mais de 40 anos. “Eu sou voluntária
com muita dedicação. Herdei isso dos meus pais, que também foram colaboradores
durante décadas. A instituição prosseguirá com sua missão de amar e de servir.
Vamos sentir falta, sem sombra de dúvidas. Tio Di viverá eternamente no coração
de cada um de nós que aprendemos a amar. Ele nos ensinou a missão de
prosseguir, amando e servindo, especialmente aos invisíveis. A nossa casa
continuará servindo e seguindo com esta missão”, finalizou.
Hoje, aos 53 anos, Ednilson Pereira da Silva, o
Nizinho, lembra com carinho da infância na Mansão do Caminho. Ele e a irmã
gêmea foram levados pela tia-avó quando tinham 3 anos para serem cuidados nos
“lares-famílias”. Cada casa distribuída pelo terreno de mais de 70 mil m²
abrigava cerca de cinco crianças, que ficavam sob o cuidado voluntário de
“tias” escolhidas por Divaldo Franco e Nilson Pereira.
Acolhimento de crianças teve início na década de 1950 Crédito: Claudio Urpia/Divulgação
A oportunidade de retribuir o acolhimento recebido na
infância humilde veio na vida adulta. Edmilson foi uma das pessoas que cuidou
de Divaldo Franco no final da vida. Ele e outro colega se revezavam para dormir
na casa onde o médium passou os últimos dias, dentro da Mansão do Caminho.
Vizinha à casa de Divaldo está a de Dilma Correia, 90 - uma das “tias” que
cuidavam dos "lares-famílias".
A oratória de Divaldo Franco e seu conhecimento sobre
o mundo dos espíritos foi o que encantou Dilma, que o conheceu na década de
1950. “Eu fiquei impressionada com aquele homem sábio. Ele falava sobre os
espíritos, planetas e biologia. Me perguntei, desde cedo, como era possível
alguém saber de tudo aquilo”, conta a senhora, que hoje recebe cuidados dentro
da Mansão, espaço onde cuidou e acolheu centenas de crianças.
Espiritismo e caridade
As características não encantaram apenas as pessoas
próximas. Ao longo da vida, Divaldo realizou mais de 20 mil conferências, em
mais de 2,5 mil cidades do Brasil e 71 países. Seus ensinamentos sobre o
espiritismo o tornaram um dos maiores médiuns do mundo.
“O trabalho realizado por Divaldo Franco inspira os
espíritas de todo o mundo. A forma com que ele acolhia aquelas crianças nas
suas necessidades espirituais e materiais mostra que fora da caridade não há
salvação”, diz Fátima Costa Souza, líder da Associação Espírita Cristã André
Luiz, em Feira de Santana.
A conterrânea de Divaldo Franco esteve com ele em
diversos encontros e lembra com carinho do cuidado que ele tinha com os
seguidores. “Me marcou muito a primeira vez que fui assistir a uma palestra e
vi, que antes de começar a falar, Divaldo ficava em um canto recebendo a todos
que quisessem falar com ele”, recorda. O último encontro aconteceu em setembro
do ano passado, quando Divaldo foi a Feira de Santana receber homenagens.
Na intimidade, Divaldo Franco encantava a todos pelo
seu bom humor e simplicidade. É o que lembra Ivanna Soutto, terceira geração de
sua família próxima ao líder espírita. Sua avó foi uma das tias dos
"lares-famílias". “Ele sempre foi uma pessoa maravilhosa, com aqueles
olhos e aquela risada. Com um humor fino, requintado e elegante”, fala.
Ivanna Soutto foi a terceira geração da família a ter contato com Divaldo Franco Crédito: Acervo Pessoal
Ao longo da vida, Divaldo não ficou imune às
polêmicas. Chegou a ser apelidado de “médium de direita” por demonstrar apoio
ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Em 2019, Divaldo Franco disse, em entrevista à
Veja, que Bolsonaro “representava uma esperança”, apesar de ser contra os
discursos a favor da tortura durante a Ditadura Militar.
Em sua visita ao estado da Bahia em 2022, Bolsonaro
esteve na Mansão do Caminho. Para Fátima Costa Souza, líder espírita de Feira
de Santana, Divaldo era um ser político e tinha direito de expressar suas
opiniões. “Como ser humano, Divaldo não é perfeito. Emitiu suas opiniões e
tinha direito. Mas as pessoas foram perversas ao querer apagar as boas ações
dele por causa disso”, avalia.
Independente de questões políticas, o maior legado de
Divaldo Franco se divide no mundo espiritual e no físico, com as obras da
Mansão do Caminho. As mensagens de paz e caridade foram transmitidas por ele ao
longo de toda a vida, a quem teve interesse de escutar e aprender. “Uma vez ele
me disse que a caridade diz mais sobre quem faz do que sobre quem recebe. É
para ser feito do coração, e ele fez isso como ninguém”, resume a amiga Ivanna
Soutto.
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