O presidente Lula demorou uma semana para se manifestar sobre o assunto.

A Operação Sem Desconto, que apura corrupção ativa e passiva, organização criminosa, falsificação de documentos, violação de sigilo funcional e lavagem de dinheiro, foi deflagrada no dia 23 de abril.

Lula só falou sobre o assunto em um pronunciamento em rede nacional devido ao Dia do Trabalho, em 1º de maio.

Ele aproveitou a oportunidade para dizer que seu governo, por meio da Controladoria-Geral da União e da PF, "desmontou um esquema criminoso de cobrança indevida contra aposentados e pensionistas, que vinha operando desde 2019".

Desde então, a postura do governo tem sido a de dizer que os desvios são anteriores ao mandato de Lula.

"Nós resolvemos desmontar uma quadrilha que foi criada em 2019. É importante saber que uma quadrilha que foi criada em 2019. E vocês sabem quem governava o Brasil em 2019", disse Lula, no sábado (10/5), ao ser perguntado por jornalistas, durante sua viagem à Rússia, sobre a demora no processo de ressarcimento dos prejudicados.

"O crime foi um assalto a aposentados e pensionistas nesse País. O que eu acho mais grave: eles não foram no cofre do INSS, eles foram no bolso do povo. Isso nos deixa mais revoltados e por isso vamos a fundo para saber quem é quem nesse jogo e se tinha alguém do governo passado envolvido nisso. Não tenho pressa", afirmou o presidente.

Gleisi Hoffmann, ministra-chefe da Secretaria das Relações Institucionais, tem discursado na mesma linha.

"Foi no governo Bolsonaro que quadrilhas criaram entidades fantasmas para roubar os aposentados, sem que nada fosse feito para investigá-las ou coibir sua ação no INSS. A maior parte das associações investigadas passou a atuar no governo Bolsonaro", escreveu ela, na semana passada, em sua conta no X.

De fato, os indícios de fraude foram identificados pela CGU devido ao forte aumento de cobranças e reclamações, que começaram a subir em 2022. No entanto, saltaram fortemente a partir de 2023, no primeiro ano do governo Lula.

Segundo um relatório da controladoria produzido em setembro de 2024, mas divulgado somente agora, o valor anual médio descontado pelas associações entre 2016 e 2021 ficou em R$ 523,8 milhões, sendo o maior valor desse período registrado em 2018 (R$ 617 milhões).

Em 2022, último ano do governo Bolsonaro, houve uma primeira alta mais expressiva, quando os descontos somaram R$ 706,2 milhões, aumento de 32% ante 2021 (R$ 536,3 milhões).

Depois disso, o crescimento se acelerou no governo Lula, atingindo R$ 1,3 bilhão em 2023, aumento de 84%.

O relatório projetava que em 2024 os descontos chegariam a R$ 2,6 bilhões, dobrando em um ano.

O relatório da CGU acusa o INSS de não tomar medidas eficazes para interromper os descontos ilegais.

Foi aberta uma CPI para investigar as fraudes?

Uma semana após deflagrada a operação Sem Desconto, deputados da oposição protocolaram na Câmara pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o esquema.

Embora dos deputados tenham conseguido reunir o número necessário de assinaturas para a abertura da CPI, a sua instalação depende do presidente da Casa, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB).

Motta, no entanto, não se comprometeu com isso, alegando que já havia uma fila de pedidos para instalações de CPIs.

A oposição então se articulou para pedir a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), algo que requer a assinatura de ao menos 1/3 dos membros de cada Casa - Câmara e Senado. A expectativa era de protocolar o pedido ainda nesta segunda-feira (12/5).

No entanto, a abertura de uma CPMI depende do presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Até o fechamento desta reportagem, a comissão não havia sido instalada.

Agência Brasil