domingo, 18 de maio de 2025

QUATRO MULHERES NOTÁVEIS NA VIDA DE FEIRA DE SANTANA

Edith Gama, a primeira mulher a ingressar na Academia Baiana de Letras.

Citar quatro pode parecer desconhecer a importância das demais, o que não é verdadeiro. Todo ser humano tem a sua importância, independente da fama e notoriedade que alcance. Assim, esse número não é limitante e, ao destacá-las, estamos homenageando a todas as mulheres feirenses, já que seria impossível prestar esse preito individualmente a cada uma delas.

Não se discute a capacidade da mulher, notadamente nos dias atuais, quando a presença feminina se acentua com brilho, nos mais diferentes espaços de atuação. Mas o objetivo aqui é ressaltar quatro nomes que se destacaram em épocas diferentes e em áreas distintas, elevando ainda mais o nome de Feira de Santana e, desse modo, através delas, mostrar a força da mulher da Princesa do Sertão. Na verdade, são nomes conhecidos, mas lembrá-los nunca é demais. Esquecê-los, sim, é o que não deve ocorrer. São feirenses de nascimento, portanto legítimas representantes da terra de Senhora Santana, o que é mais importante.

Maria Quitéria de Jesus Medeiros (soldado Medeiros)

Em 1882 o Brasil estava em guerra contra os portugueses, descobridores do território pátrio e decididos a manter o domínio sobre ele, quando isso já não era admitido pelo povo brasileiro. Na Bahia, na intensificação da luta, surgiu uma figura decidida no combate que marcou o mapa da independência: o soldado Medeiros, que integrou inicialmente o Regimento de Artilharia, sendo transferido para a Infantaria número 3, o chamado Batalhão dos Periquitos.

Graças à sua coragem e destemor, o soldado Medeiros tornou-se Cadete e, após a Guerra da Independência do Brasil, travada em solo baiano, foi recebido no Rio de Janeiro e condecorado por Dom Pedro I, como Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro. Só que esse bravo militar não era outro senão a feirense Maria Quitéria de Jesus Medeiros, nascida em 1792 no Sítio Licurizeiro, distrito de São José das Itapororocas, hoje, com muita justiça, distrito de Maria Quitéria.

Para se alistar ao exército, ela desobedeceu ao pai, Gonçalo Alves de Jesus, mas, ao final da guerra, retornando à sua terra, por ele foi perdoada. Depois da guerra, a maior heroína baiana passou a receber soldo como alferes, mas o valor era considerado insignificante. Casada, ela foi morar em Salvador, onde faleceu no dia 21 de agosto de 1853, aos 61 anos de idade, deixando uma filha. O corpo da heroína foi sepultado no cemitério que fazia parte da Igreja do Santíssimo Sacramento de Santana.


Georgina de Mello Erismann

Bem depois, já no século XX, outro nome feminino honrou a Terra de Senhora Santana, mas longe de armas, e se esteve armada, usou um piano e uma caneta com tal. Georgina de Mello Erismann, filha de Camilo Lima e Leolinda Bacelar de Mello Lima. Assim como a mãe, Georgina alcançou o diploma em magistério, tornando-se professora de música da então Escola Normal Rural em 1927. Capacitada, ela representou a Bahia durante eventos alusivos ao centenário do maestro Carlos Gomes em São Paulo, em 1939, e estudou piano para aprimoramento no Rio de Janeiro, já que era professora desse instrumento.

Georgina Mello viveu a infância e adolescência na Pensão Universal, onde hoje é Edifício Mandacaru, localizado na Rua Conselheiro Franco, que pertencia a seu pai, e desde garotinha ali tocava piano. Foi também uma fértil poetisa, deixando obras interessantes, assim como composições, sendo: Moreninha, Cangaceiro, Nostalgia do Sertão, Rede, Bimbo e Exortação algumas das mais conhecidas. Todavia, seu trabalho mais importante e, por isso, capaz de eternizá-la, foi o Hino a Feira de Santana, obra-prima que orgulha o feirense. Casou-se em 8 de setembro de 1926 com o engenheiro Walter Tudy Erismann. A poetisa feirense faleceu em 23 de fevereiro de 1940, no Rio de Janeiro, e teve o corpo sepultado no Cemitério São João Batista, na Cidade Maravilhosa.


Em 1930, ela foi reverenciada como a mulher mais representativa da Bahia no segmento cultural e a primeira a ingressar na Academia Baiana de Letras. Falamos de Edite Mendes Gama e Abreu, filha do casal João Mendes da Costa e Maria Augusta Falcão Mendes. Edite foi uma jovem dedicada aos estudos, formando-se em Literatura Brasileira e Francesa, Filosofia, Ciências Sociais e Canto. Aos 15 anos de idade, Edite Mendes já era conferencista.

Em 1942, em Salvador, a feirense foi professora e fundadora da Faculdade de Filosofia, tendo destacada atuação nos segmentos da literatura, jornalismo e política, de tal modo que chegou a ser candidata a deputada estadual e deputada federal. Concorrendo a uma cadeira na Academia Baiana de Letras, obteve 32 votos favoráveis de 39 votantes. Os sete contra foram atribuídos ao fato de que, até aquele momento, a Academia era um organismo essencialmente masculino, ou seja: apenas constituído por homens. Foi ela, exatamente, que quebrou esse paradigma.

Ângela Queiroz de Oliveira

Bem mais recente e em outro segmento, o artístico, Ângela Queiroz de Oliveira foi outra feirense que representou sua terra com absoluta fidelidade. Filha do doutor Herval Queiroz e da professora Ely Queiroz de Oliveira, além da educação esmerada que a tornava simpática ao primeiro contato, desde garotinha inclinou-se para o balé de forma espontânea e até surpreendente pela dedicação com que se exercitava e estudava o assunto.

A partir de 1972, com a Escolinha de Arte Criativa e Balé, a professora Ângela Oliveira passou a chamar atenção da comunidade e de muitas jovens que, embora apreciassem essa arte, não tinham como fazer a iniciação. Com enorme determinação, lançou-se à construção da sede própria da EARTE, com o irrestrito apoio dos pais, doutor Herval e a professora Ely, e, feliz, conseguiu o seu intento ao inaugurá-la em 1981. Independente desse empreendimento vitorioso, Ângela participou de muitos trabalhos exitosos como bailarina.

Todavia, três anos após, vitimada por um acidente automobilístico, a bailarina e professora Ângela Oliveira deixava a vida física com apenas 30 anos e a perspectiva de produzir muitos planos importantes para as artes em Feira de Santana. Familiares seus incumbiram-se de manter o projeto tão sonhado por ela, mas a ausência de Ângela Oliveira continua sentida. Assim, focalizamos quatro nomes que representam bem o valor da mulher feirense de ontem e de hoje, mas deixando claro que, independente delas, todas são valiosas, de acordo com a sua missão de vida.

Por Zadir Marques Porto

Nenhum comentário: