sábado, 8 de julho de 2017

Bando Anunciador: Antigos erros podem levar a nova extinção



                 Acompanhei com entusiasmo o resgate do Bando Anunciador da Festa de Santana por parte da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Acredito em um povo que preserva seus usos e costumes, suas principais tradições. Nasci e morei na Praça da Matriz (hoje, Monsenhor Renato Galvão) e participei dos bandos anunciadores e das Lavagens da Igreja e Levagem da Lenha, eventos que compunham os festejos da Padroeira Senhora Santana. Fiquei triste e até aborrecido quando o Bispo de então, D. Silvério Albuquerque, em acordo com o Prefeito José Falcão, extinguiram a parte profana da Festa.

            Mais tarde, entendi e concordei que, do jeito que estava, não havia como continuar. O Bando, ou melhor, bandos, pois eram formados nas comunidades e se uniam na praça, formando um grande cortejo, eram de iniciativa espontânea da população, e tinham como objetivo alertar os fiéis para a proximidade da Festa da Padroeira. As pessoas, fantasiadas ou não, algumas levando instrumentos, percorriam as ruas dos seus bairros e se dirigiam à Praça, para sair em cortejo pelas ruas do centro com muita animação, algazarra e bom humor.

            Porém, políticos viram ali uma oportunidade de angariar popularidade, e se misturavam aos foliões, buscando se mostrar como iguais e desprovidos de preconceitos. Mas tudo era só fachada, porque o interesse mesmo era o voto daquela gente simples, inocentes úteis. Na praça eram montadas barracas de bebidas e comidas típicas, quermesses, parques de diversões e muitos outros folguedos. O problema maior era o comércio de bebidas porque, de “tanque cheio”, as pessoas liberavam seus instintos e o número de brigas e mortes no sítio da festa só fazia aumentar a cada ano. Em frente à casa do Bispo havia a Barrakaçola. Onde se reunia a fina flor dos artistas e da imprensa. Ou seja, a fina flor da molecagem (eu entre eles). E nas madrugadas, lotados de álcool, o barulho era grande e até xingamentos eram direcionados a casa do Bispo, num total desrespeito. Tudo isso foi argumento válido para as autoridades colocarem um ponto final na parte profana da Festa.

            Hoje, eu vejo os mesmos erros sendo cometidos. Políticos já invadem o bando e não se contentam em participar, querem determinar modificações que descaracterizam as tradições do bando, como por exemplo, levando carros de som e até trios elétricos para o meio do cortejo, que abafam os sons das fanfarras, gente vestindo camisas impressas com seus nomes, o que destoa e inibe o uso das fantasias, e, levando animais para o cortejo, ocasionando grande risco de acidentes. O Cuca, responsável pelo resgate da festa, perdeu o controle e hoje os bandos já não entram na área, reunindo-se em frente ao prédio, e o pároco da Catedral, que recebia carinhosamente os foliões na porta da igreja, para abençoá-los, já fecha a igreja antes da volta do cortejo. Muitas famílias que se organizavam em grupos estão deixando de participar, e o que se vê é um crescente número de vândalos e brigões tomando conta do cortejo.
            Infelizmente, cometendo os mesmos erros do passado, não demoram a acontecer mortes no percurso e o Bando, tão lindamente resgatado, na plenitude das suas melhores tradições, corre o risco de ser mais uma vez extinto

      

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