
Mais tarde, entendi e concordei que,
do jeito que estava, não havia como continuar. O Bando, ou melhor, bandos, pois
eram formados nas comunidades e se uniam na praça, formando um grande cortejo,
eram de iniciativa espontânea da população, e tinham como objetivo alertar os
fiéis para a proximidade da Festa da Padroeira. As pessoas, fantasiadas ou não,
algumas levando instrumentos, percorriam as ruas dos seus bairros e se dirigiam
à Praça, para sair em cortejo pelas ruas do centro com muita animação,
algazarra e bom humor.
Porém, políticos viram ali uma
oportunidade de angariar popularidade, e se misturavam aos foliões, buscando se
mostrar como iguais e desprovidos de preconceitos. Mas tudo era só fachada,
porque o interesse mesmo era o voto daquela gente simples, inocentes úteis. Na
praça eram montadas barracas de bebidas e comidas típicas, quermesses, parques
de diversões e muitos outros folguedos. O problema maior era o comércio de
bebidas porque, de “tanque cheio”, as pessoas liberavam seus instintos e o
número de brigas e mortes no sítio da festa só fazia aumentar a cada ano. Em
frente à casa do Bispo havia a Barrakaçola. Onde se reunia a fina flor dos
artistas e da imprensa. Ou seja, a fina flor da molecagem (eu entre eles). E
nas madrugadas, lotados de álcool, o barulho era grande e até xingamentos eram
direcionados a casa do Bispo, num total desrespeito. Tudo isso foi argumento
válido para as autoridades colocarem um ponto final na parte profana da Festa.
Hoje, eu vejo os mesmos erros sendo
cometidos. Políticos já invadem o bando e não se contentam em participar,
querem determinar modificações que descaracterizam as tradições do bando, como
por exemplo, levando carros de som e até trios elétricos para o meio do
cortejo, que abafam os sons das fanfarras, gente vestindo camisas impressas com
seus nomes, o que destoa e inibe o uso das fantasias, e, levando animais para o
cortejo, ocasionando grande risco de acidentes. O Cuca, responsável pelo
resgate da festa, perdeu o controle e hoje os bandos já não entram na área,
reunindo-se em frente ao prédio, e o pároco da Catedral, que recebia
carinhosamente os foliões na porta da igreja, para abençoá-los, já fecha a
igreja antes da volta do cortejo. Muitas famílias que se organizavam em grupos
estão deixando de participar, e o que se vê é um crescente número de vândalos e
brigões tomando conta do cortejo.
Infelizmente, cometendo os mesmos
erros do passado, não demoram a acontecer mortes no percurso e o Bando, tão
lindamente resgatado, na plenitude das suas melhores tradições, corre o risco
de ser mais uma vez extinto
Nenhum comentário:
Postar um comentário