Água mole fura, sim. Cânions e cavernas estão de prova. Por outro lado, fatos que parecem bem mais plausíveis não têm um pingo de reais.
1. O homem veio do macaco

(Carlo Giovani/Superinteressante)
Sabe aquela camiseta que mostra a evolução do homem a partir do
macaco? Pois então, não é bem assim. A confusão acontece porque seres
humanos e macacos têm, de fato, um mesmo ancestral.
Estudos recentes indicam que, há mais de 6 milhões de anos,
vivia em algum lugar da África uma espécie de primata que se dividiu em
duas linhagens por conta de adversidades da natureza. De uma delas
vieram os chimpanzés e bonobos atuais. Da outra, o homem. Ou seja,
tivemos um antepassado comum. Tanto é que os nossos genes são 90%
iguais.
No entanto, antes de chegar à forma atual, os hominídeos passaram por uma série de upgrades que teve início com o Australopithecus, há quase 4 milhões de anos. Ele já possuía postura ereta, locomoção bípede e arcada dentária próxima da que nós, Homo sapiens, temos hoje.
A evolução é uma solução natural para questões ambientais, ecológicas
e sociais. Aqui, as mutações genéticas e em especial o ambiente
exerceram influência na maneira como cada espécie costumava se adaptar.
Experimente ir para o meio da selva desprovido de roupas ou ferramentas e
veja quanto tempo você resiste.
Sob esse viés, o macaco estaria em vantagem evolutiva. Além do mais, a Teoria da Evolução,
de Charles Darwin, não menciona nada a respeito de um aperfeiçoamento
que teria levado macacos a se tornarem homens. Aliás, a seleção descrita
pelo naturalista é bastante clara ao retratar os movimentos feitos por
nossos ancestrais. Assim, é possível compreender por que determinados
seres vivos sobrevivem ao longo do tempo e por que outros ficam pelo
caminho.
2. A palavra saudade é intraduzível
A ideia de que a palavra saudade não possui equivalência em outras
línguas é um dos grandes mitos do nosso vernáculo. Como saudade é um
sentimento universal, todo idioma acaba tendo seus próprios meios de
expressá-la. Quem explica é o linguista Carlos Faraco, autor de
Linguística Histórica: introdução ao estudo da história das línguas. “As
línguas, todas elas, garantem aos seus falantes os recursos para a
expressão de sua experiência pessoal, social e histórica. É o chamado
potencial semiótico.”
Uma das primeiras conceituações do termo em português remonta aos
anos 1600, quando o filósofo e escritor lusitano D. Francisco Manoel de
Melo definiu saudade como uma ode à melancolia: “Essa paixão que só nós
sabemos o nome, chamando-lhe saudade, filha do amor e da ausência”.
Em 2008, a empresa britânica Today Translations ouviu mil tradutores e
considerou saudade a sétima palavra estrangeira mais difícil de
traduzir. Nem mesmo em português há consenso. Para o Aurélio, é uma “lembrança grata de pessoa ausente ou de alguma coisa de que alguém se vê privado”. Já o Houaiss considera saudade um sinônimo de “isolamento, solidão e desamparo”.
Seria o equivalente às espanholas soledad e añoranza.
Tanta confusão também tem a ver com o fato de que em outras línguas é
preciso combinar palavras para falar saudade. Um caso comum é o do
inglês, que usa o verbo miss para determinar “falta de”. Em
meio a mais de 6 mil idiomas existentes no mundo, seria improvável
ninguém mais conseguir verter em prosa e verso suas saudades.
3. Esquimós têm mais de 100 termos para neve
Assim como os brasileiros podem chamar tempestades de neve de
nevasca, os esquimós também usam mais de uma classificação para o
fenômeno. E eles têm razões para isso, pois nas margens do Círculo Polar
Ártico neva bem mais do que por aqui. Mas não há mais de cem termos
para neve.
A confusão numérica tem a ver com a diversidade de dialetos falados pelos esquimós – e nasceu de um artigo publicado no New York Times em 1984. Quatro anos depois, o jornal voltou a repercutir o tema, então reduzindo para menos de 50.
A verdade é que cada dialeto tem cerca de sete palavras para definir eventos com neve. Enquanto Patuqutaujuq significa “coberto por neve congelada e brilhante”, qanniq define a expressão “neve que cai”.
4. O futebol foi inventado na Inglaterra
Nessa você pode até cair, mas o juizão não vai anotar pênalti. Ao
contrário do que muita gente pensa, os súditos da rainha não inventaram o
futebol. Mas há bons motivos para que eles levem a fama. Os britânicos
criaram as principais regras conhecidas hoje. Além disso, definiram as
medidas do campo, determinaram o tempo de jogo e fundaram a primeira
associação de clubes, ainda na segunda metade do século 19.
Agora dizer quem de fato criou o esporte é tarefa quase impossível.
Na própria Inglaterra existem relatos de jogos entre estudantes no
século 16, mas o primeiro registro de algo parecido com o futebol
remonta à Antiguidade. Na Grécia de quase 3 mil anos atrás praticava-se o
episkyros, que tempos depois seria aperfeiçoado pelos romanos e rebatizado como harpastum.
Na época, jogava-se com as mãos e os pés, como o futebol americano. E
teriam sido os romanos que levaram o esporte à Grã-Bretanha.
Já no Oriente quem deu o pontapé inicial foi a China, há mais de 2 mil anos. A diversão, então chamada de tsu chu,
não era apenas entretenimento: o jogo fazia parte do treinamento físico
militar e era adorado até por imperadores. Cinco séculos depois, os
japoneses se divertiam jogando kemari, outra variação do que seria conhecido como esporte bretão.
5. Leônidas da Silva é o pai da bicicleta
Assim como o Brasil não inventou o futebol, também não foi um
brasileiro, Leônidas da Silva, o primeiro jogador do mundo a dar uma
bicicleta. Ainda que o atacante tenha gravado seu nome na história do
esporte, o verdadeiro pai da bicicleta foi o chileno Ramón Unzaga, que
anotou seu primeiro gol de costas para o adversário e com o corpo
inclinado 90 graus em 1914. Com o feito, arrancou aplausos até mesmo dos
adversários. Seis anos depois, na Copa América, ele repetiu a jogada,
conhecida no Chile como “la chilena”.
Já Leônidas da Silva, craque da Seleção Brasileira, do Flamengo e do
São Paulo, só foi dar sua primeira pedalada no ar nos anos 1930.
Artilheiro da Copa de 1938, ele ganharia o apelido de Diamante Negro de
um jornalista francês e, tempos depois, batizaria um dos mais conhecidos
chocolates fabricados no Brasil.
6. A Muralha da China pode ser vista do espaço
Nem a Muralha da China, nem as pirâmides do Egito. Se alguém olhar
para a Terra do espaço, não verá nada além de nuvens, montes de terra e
água. A menos que o astronauta em questão esteja equipado de lentes
teleobjetivas superpoderosas, é impossível enxergar do espaço, a olho
nu, qualquer tipo de construção existente na Terra.
O mito nasceu em 1972, quando o americano Gene Cernan voltou da
missão Apollo 17 jurando ter visto o colosso chinês quando a espaçonave
estava em órbita, a 320 quilômetros de altitude. O deslumbramento pode
ter sido influenciado pelo livro Maravilhas do Mundo, de
Richard Halliburton, lançado em 1938. Nele, o autor relata: “Astrônomos
afirmam que a Grande Muralha é a única obra do homem que pode ser vista
do espaço”.
Quem desmentiu a falácia acabou sendo, ironicamente, um chinês. Em
2003, a bordo da espaçonave Shenzhou 5, Yang Liwei deu 14 voltas ao
redor do planeta. E em nenhuma delas conseguiu avistar a Muralha. Como o
paredão chinês tem largura entre 6 e 7 metros e sua cor se assemelha à
do solo, avistá-la a uma distância tão grande seria nada mais do que
mera ilusão.
7. A Terra tem apenas sete mares
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(Carlo Giovani/Superinteressante) |
A luz azul que guiou Tim Maia estava errada. Mas ele jamais
descobriria que a Terra tem bem mais que os sete mares que habitam o
imaginário popular. São 61, para ser exato. Acredita-se que a teoria
tenha origem no clássico As Mil e Uma Noites, uma coleção de
contos populares árabes publicada há mais de mil anos. Numa das
histórias, o marinheiro Simbad leva mercadorias a lugares distantes,
singrando sete mares.
Ao longo do tempo, navegantes se habituaram a dividir os oceanos em
sete – e não em cinco, como aprendemos na escola. Prova disso é a
existência de cartas náuticas, hoje em desuso, que apontam a existência
de sete oceanos: Índico, Ártico, Antártico, Pacífico Norte, Pacífico
Sul, Atlântico Norte e Atlântico Sul.
O detalhe é que mar é uma coisa, e oceano, outra. Enquanto o primeiro
é formado por uma porção de água salgada cercada em parte ou totalmente
por terra, o segundo determina áreas muito mais amplas e abertas. Quem
delimita geograficamente o que é mar ou oceano é a Organização
Hidrográfica Internacional. Para a entidade, tais divisões não estão
vinculadas apenas a questões políticas, seguindo unicamente
características climáticas e naturais.
8. A Nasa criou uma caneta para usar no espaço
Diz a lenda que, enquanto a Nasa gastava milhares de dólares para
desenvolver uma caneta que funcionasse na microgravidade, os soviéticos
resolveram o problema com uma solução bastante simples: usaram lápis. Na
verdade, tudo não passou de intriga da oposição.
Registros históricos comprovam que os russos até chegaram a testar
lápis com graxa no lugar do grafite, evitado por ser inflamável.
Enquanto isso, os americanos criaram 34 tipos de lápis espaciais, a um
custo aproximado de mil dólares cada (valores atuais).
A verdade é que apenas dois desses modelos foram usados em órbita,
ambos em 1965. E não demorou para que a imprensa descobrisse o alto
valor investido e tornasse o caso um escândalo. Na época, chegou-se a
abrir um inquérito para investigar o investimento, estimado em US$ 34
mil.
A Nasa até tentou se justificar, mas não teve jeito: os lápis haviam
sido uma péssima ideia, pois tinham o risco de quebrar e precisavam ser
apontados, gerando resíduos que pairavam no ar por conta da gravidade
próxima do zero.
O redesenho da história foi feito pela Fischer Space Pen, empresa que
investiu do próprio caixa uma fortuna equivalente a US$ 8 milhões na
fabricação e patente de uma caneta espacial. Sua tinta a gel fluía
perfeitamente e não ressecava ou vazava. Tanto os EUA quanto a Rússia
acabaram adquirindo lotes em que uma unidade custava US$ 16.
A propósito: Tang, velcro e teflon não são obras da Nasa. O suco em
pó foi lançado pela General Foods em 1957 e ficou famoso por ser usado
no espaço por John Glenn, em 1962. Já o teflon nasceu dentro da DuPont
em 1938 e o velcro é uma invenção suíça da década de 1940. A Nasa só
abriu as portas em 1958, ajudando a popularizar esses itens.
9. A água da pia gira diferente em cada hemisfério
Muito se fala que a água da pia e a da descarga giram para lados
diferentes conforme o hemisfério. No Sul, seria no sentido horário; no
Norte, anti-horário. A verdade é que o movimento pode mudar em função de
diversos fatores, mas nunca por conta do hemisfério. Entre os motivos
podem estar o formato da pia, a estrutura do vaso, a incidência de uma
corrente de ar ou mesmo o seu deslocamento inicial.
Ainda que não se confirme na prática, a teoria dos hemisférios até
tem fundamento. E tem a ver com a chamada força de Coriolis, um conceito
científico criado pela rotação da Terra e que explica o sentido de
ciclones e massas de ar. A força também se manifestaria, por exemplo,
num teste de artilharia, desviando uma rajada de tiros para a esquerda
quando fossem disparados no Hemisfério Sul. No Norte, seria o contrário.
Já as massas de ar que dão origem aos ciclones sofrem influência no
sentido horário no Hemisfério Sul e anti-horário no Norte. Para pequenas
quantidades de água, no entanto, nada disso faz sentido. Os efeitos
mais perceptíveis da força de Coriolis são vistos em regiões mais
próximas dos polos. Como a massa de água em questão é pequena, não
existe a menor chance de impactar a direção dos movimentos. Mais um mito
que vai pelo ralo.
10. Raios não caem duas vezes no mesmo lugar
De que servem os para-raios senão para atrair descargas elétricas e
conduzi-las até o chão? Essas hastes metálicas conectadas à terra por
cabos são colocadas em pontos altos porque a incidência de raios é maior
em extremidades. Com 381 metros de altura, o Empire State Building, em
Nova York, recebe em média 25 descargas elétricas por ano. Já no Brasil,
dono da maior zona tropical do mundo e recordista em ocorrências de
raios, o Cristo Redentor é castigado seis vezes ao ano. Além de
para-raios, topos de prédios e monumentos pontiagudos, copas de árvores
também costumam atrair descargas elétricas.
11. O Oiapoque é o extremo do norte do Brasil
Localizado no Oiapoque, no Amapá, o Cabo Orange era mesmo o ponto
mais ao norte do país. Até perder o posto para o Monte Caburaí, em
Roraima. Em 1998, uma expedição ao município de Uiramutã, onde fica o
Monte, pretendia buscar a nascente do Rio Uailan, mas acabou fazendo
outra descoberta.
A 1.465 metros de altitude, no Parque Nacional do Monte Roraima, o
Caburaí se reparte ao meio: metade Brasil, metade Guiana. Assim, 84 km
mais ao norte do que o Oiapoque, um grupo de autoridades promoveu uma
cerimônia para atestar o mais novo ponto mais boreal do Brasil.
Desde então, o certo a dizer é do Caburaí ao Chuí. No extremo sul do
Rio Grande do Sul está o município do Chuí. A separação com a cidade
vizinha, a uruguaia Chuy, é feita apenas por uma avenida.
12. Desapareceu? Espere 24h até fazer B.O.
No Brasil, não existe tempo mínimo de espera para notificar a polícia
sobre o desaparecimento de alguém. O recomendado, inclusive, é que a
ocorrência seja registrada nas primeiras horas da ausência. Isso tende a
facilitar a localização pelos investigadores. “Essa ideia foi
incorporada por filmes e seriados, já que cada país tem seu próprio
procedimento”, diz o delegado Gabriel Bicca, da Polícia Civil do Rio
Grande do Sul.
Os gaúchos, por sinal, ocupam o segundo lugar no ranking nacional de
desaparecidos, atrás apenas de São Paulo. No País, 85% dos casos de
desaparecimento são resolvidos quando a pessoa retorna para casa por
conta própria. Nos EUA, no entanto, cada Estado tem autonomia para
determinar quanto tempo é preciso esperar.
13. A Amazônia é o pulmão do mundo
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(Carlo Giovani/Superinteressante) |
Ninguém sabe como essa história mantém seu fôlego. Tudo bem que, com 7
milhões de quilômetros quadrados, a Bacia Amazônica absorve (muito)
dióxido de carbono e libera (muito) oxigênio. É o processo da
fotossíntese em escala gigantesca. Mas o pulmão segue uma lógica
inversa, pois absorve oxigênio e libera gás carbônico.
Digamos que aceitássemos a metáfora. Nem assim a Amazônia poderia ser
o pulmão do planeta, por uma questão de escala. Afinal, toda a produção
de oxigênio da floresta é consumida por ela mesma, pelo processo de
metabolização das plantas – o seu próprio ciclo de vida. “É um balanço
fechado que não impacta de forma alguma no volume total de oxigênio na
atmosfera terrestre”, explica Niro Higuchi, pesquisador do Instituto
Nacional de Pesquisa da Amazônia.
A grande contribuição da floresta amazônica está na manutenção dos
ciclos hidrográficos. Isso porque qualquer resíduo biológico lançado na
atmosfera – como materiais de polinização ou em decomposição – contribui
para a condensação das nuvens. Daí porque chove constantemente na
Amazônia. Por lá, esse microclima dá origem ao fenômeno conhecido como
“rios voadores”, que nada mais são do que fluxos aéreos de água em forma
de vapor que se deslocam pelas bacias hidrográficas da América do Sul.
Viajando por até 3 mil quilômetros de distância, esses rios invisíveis
precipitam as chuvas em todo o Brasil. Posicionados a 2 quilômetros de
altura, eles chegam a transportar mais água que o próprio Rio Amazonas. (SuperInteressante)
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