
Já escrevi tanto, que nem sei, mas nunca escrevi a esses 20 mil humanos
que não poderão me ler. Nunca descrevi seu medo na solidão do
diagnóstico, no desespero por ar, na sua incapacidade de reconhecer o
rosto por trás das máscaras, por sua oração por ser isolado dos seus e
os proteger, por sua oração por ser afastado dos seus e ser só temor.
Não falei da silenciosa esperança que deposita nesses inúmeros heróis
que também amedrontados escolhem que terapêutica deve ser a mais
adequada a seu caso, carregando o fardo e o peso de saber que dessa
decisão pode ocorrer a morte ou salvação.
Não, eu não escrevi as famílias que tem o fio da vida cortado pelas deusas que o fiam, antes mesmo da perda final. Não falei dessas famílias que em covas coletivas, mal saberão onde visitar os seus quando a saudade for falta. Nem das famílias que viveram a crueldade e a impotência de lutar por uma vaga para salvar um pai, uma mãe, um filho, uma avó, um avô, um marido, uma mulher, nessa brutalidade e selvageria do nosso sistema de saúde.
Não, eu não escrevi a esses a quem pandemia encurtou o tempo, os abraços, os risos, os saberes, os gozos de amor, os vícios, a memória, a miséria e a glória da vida.
Nã escrevi para dizer que é inaceitável que na era do átomo, da nave orbital, do genoma, da manipulação genética, da morte nuclear, estejamos a morrer assim, de forma inesperada, imprudente, e irresponsável, de fome de morcegos.
Eu não escrevi estendendo meus braços a vocês, dizendo que nenhuma vida é descartável, que nenhuma vida pode ser perdida sem luta, que voces merecem respeito, ou pedindo desculpas por esse mundo falho; nem dizendo que chorem as lágrimas necessárias que chorar é preciso, e que não deixem de reverenciar os que morreram nessa luta de morte ou vida.
Não, eu não escrevi porque eu não sei o que dizer quando se morre também.
Não, eu não escrevi as famílias que tem o fio da vida cortado pelas deusas que o fiam, antes mesmo da perda final. Não falei dessas famílias que em covas coletivas, mal saberão onde visitar os seus quando a saudade for falta. Nem das famílias que viveram a crueldade e a impotência de lutar por uma vaga para salvar um pai, uma mãe, um filho, uma avó, um avô, um marido, uma mulher, nessa brutalidade e selvageria do nosso sistema de saúde.
Não, eu não escrevi a esses a quem pandemia encurtou o tempo, os abraços, os risos, os saberes, os gozos de amor, os vícios, a memória, a miséria e a glória da vida.
Nã escrevi para dizer que é inaceitável que na era do átomo, da nave orbital, do genoma, da manipulação genética, da morte nuclear, estejamos a morrer assim, de forma inesperada, imprudente, e irresponsável, de fome de morcegos.
Eu não escrevi estendendo meus braços a vocês, dizendo que nenhuma vida é descartável, que nenhuma vida pode ser perdida sem luta, que voces merecem respeito, ou pedindo desculpas por esse mundo falho; nem dizendo que chorem as lágrimas necessárias que chorar é preciso, e que não deixem de reverenciar os que morreram nessa luta de morte ou vida.
Não, eu não escrevi porque eu não sei o que dizer quando se morre também.
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