Combinação de remédios, que inclui uma proteína e três
medicamentos usados contra hepatite e HIV, não causou efeitos colaterais
graves; todos os 127 pacientes avaliados pelo estudo, feito por
cientistas chineses e publicado na revista “Lancet”, se curaram da
doença
No estudo, 127 pacientes internados com Covid-19 em hospitais de Hong Kong foram
divididos aleatoriamente em um grupo de teste (com 86 pessoas) e um
grupo de controle (41 pessoas). Os pacientes do grupo de teste receberam
um coquetel de medicamentos antivirais: ribavirina (normalmente
usada contra a hepatite C), lopinavir e ritonavir – que costumam ser
usados em conjunto para controlar a infecção pelo vírus HIV. O
tratamento também incluiu três injeções de interferon beta-1b, uma
proteína que controla a inflamação nos tecidos.
Após 7 dias, em média, as pessoas
estavam curadas da Covid-19 e não apresentavam mais traços do vírus no
organismo – contra 12 dias do grupo de controle. Além de acelerar a cura
em 40%, o tratamento também reduziu em 38% o período de hospitalização,
que foi de 9 dias em média (contra 14,5 dias no grupo de controle).
Antes de ser publicado no Lancet, o estudo passou pelo processo de revisão por pares (peer review),
no qual cientistas que não participaram do trabalho analisam seus
métodos e conclusões. O número de pacientes avaliados, 127, corresponde a
80% de todos os casos de hospitalização por Covid-19 em Hong Kong
durante o período do estudo, 10 de fevereiro a 20 de março.
Nenhum paciente morreu. É um resultado bem melhor do que o obtido, nos EUA, por um estudo com o medicamento remdesivir – que também reduziu a duração da Covid-19,
mas apresentou 8% de óbitos (contra 11,6% no grupo de controle). Ao
contrário do remdesivir, que acaba de ser aprovado emergencialmente pela
FDA, o coquetel utiliza antivirais que já estão no mercado – e não
apresenta, os efeitos colaterais da cloroquina, como problemas
cardíacos. No estudo, provocou apenas náusea e diarréia (com exceção de
um paciente, que desenvolveu hepatite medicamentosa por causa do
lopinavir-ritonavir e teve o tratamento interrompido).
O tratamento foi iniciado em média
cinco dias após o surgimento dos sintomas de Covid-19, mas o estudo
chinês também incluiu pacientes em estágio mais avançado, que
apresentavam sintomas há mais de uma semana.
O estudo seguiu o método open label,
ou seja, os médicos e pacientes sabiam quais medicamentos estavam sendo
ministrados. Não foi do tipo duplo cego – no qual ninguém, nem mesmo os
médicos, sabe quem está recebendo as drogas e quem está tomando placebo
(o que gera resultados estatisticamente mais confiáveis).
O grupo de controle também teve uma
particularidade: seus 41 pacientes não receberam placebo. “Como um grupo
placebo geralmente não é aceito na cultura chinesa (…) o grupo de
controle recebeu lopinavir-ritonavir”, escreveram os cientistas. Isso
sugere que a ribavirina e o interferon beta-1b sejam cruciais na redução
da duração da Covid-19 – mas não dá para afirmar que tenham esse efeito
sem a ajuda do lopinavir-ritonavir. Também é possível que, se comparado
a um grupo “placebo puro”, sem ação farmacológica, o coquetel de quatro
medicamentos se mostrasse ainda mais eficaz. (SperInterassante)
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