Inicialmente vista como uma doença
respiratória causadora de pneumonia, a covid-19 está se revelando bem
mais complexa conforme se espalha pelo globo, diz o epidemiologista
Paulo Lotufo, professor titular de Clínica Médica da Universidade de São
Paulo (USP).
Nos países mais afetados pela pandemia, hospitais
têm recebido cada vez mais pacientes com problemas cardíacos e renais
causados pela doença.
A explicação, diz Lotufo, pode estar na ação
do vírus Sars-CoV-2 em receptores envolvidos no controle do sistema
circulatório — o que estaria desencadeando infartos e acidentes
vasculares cerebreais (AVCs) entre pacientes sem histórico de doenças
cardiovasculares.
Vêm surgindo ainda estudos que vinculam a ação do vírus em crianças à síndrome do choque tóxico, doença rara que pode gerar insuficiência renal aguda.
Em
entrevista à BBC News Brasil, Lotufo afirma que as descobertas recentes
sobre a covid-19 tornam ainda mais difícil monitorar o avanço da
pandemia, pois muitas pessoas infectadas morrem sem apresentar os
sintomas associados à doença, como febre ou falta de ar, e por isso nem
chegam a ser testadas.
Por
outro lado, ele afirma que hospitais bem equipados têm sido
"extremamente eficientes" em tratar a insuficiência respiratória aguda
causada pela doença, sua expressão mais comum entre pacientes graves.
Livre-docente em Clínica Médica pela USP, Lotufo fez
pós-doutorado na Harvard Medical School, nos EUA, e se especializou em
administração hospitalar pela Fundação Getúlio Vargas.
Em 2018, Lotufo foi um dos 12 cientistas
brasileiros citados na Highly Cited Researchers, uma lista dos
pesquisadores mais influentes do mundo, feita com base em citações em
artigos acadêmicos.
Hoje ele dirige o Centro de Pesquisa Clínica e
Epidemiológica e o Centro de Inovação e Medicina Translacional da USP,
além de lecionar no Hospital Universitário da entidade.
Na
entrevista, Lotufo defende ainda que escolas sejam abertas para receber
pacientes de covid-19 com sintomas leves que não tenham condições de se
isolar em casa e que trabalhadores da indústria alimentícia sejam
considerados um dos grupos prioritários para a testagem da doença.
Paulo Lufo afirma que "nós só saberemos que chegamos ao pico depois que nós o descermos. Não é
um acidente geográfico conhecido, que a gente mensura e chega lá. Nós estamos numa fase ascendente, e aí há uma questão muito importante, que é a questão da distribuição geográfica da doença.
Hoje
ela não é uma doença exatamente nacional. Ela está tendo focos
específicos: a Grande São Paulo, o Rio de Janeiro e a Baixada
Fluminense, o Recife, Fortaleza, Maranhão, Belém e Manaus. Esses são os
grandes focos.
E agora estamos no fenômeno da migração da
epidemia para o interior, em São Paulo, no Amazonas, no Nordeste, em
Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Com isso teremos mais pessoas com
insuficiência respiratória muito grave em lugares com poucas condições
de atendimento.
Confira trecho entrevista a BBC News Brasil
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