quinta-feira, 8 de abril de 2021

Futebol 6 X 1 Micareta (e foi pouco)

Era vésperas da Micareta, época dos bailes pré micaretescos. A ideia de levar um time, ou melhor, turma, de profissionais da imprensa feirense para jogar contra um “catadinho” do município de Tanquinho, foi de Valter Vieira. Ele era amigo de um comerciante daquele município, que tinha lojas em Feira de Santana, e o “jogo” era um dos eventos programados para festejar alguma coisa que não me lembro bem o que era.  Catadinho, vocês sabem, é aquela equipe que se forma andando de bar em bar e perguntando: Tem um jogo contra uns caras de Feira de Santana, alguém aí quer participar? Pois é! Só que antigamente (hoje não, que essa geração Nutella só joga vídeo game), toda e qualquer criança do sexo masculino (naquele tempo a gente tinha sexo bem definido) começava a jogar futebol de rua pouco depois de nascerem os dentes. E como nas pequenas cidades eram mínimas as chances de chegarem jogar em alguma equipe de expressão estadual, e muito menos nacional, eram formadas equipes amadoras que disputavam campeonatos muito melhores que estes estaduais que vemos hoje em dia. E foi destes campeonatos amadores que saíram os Pelés, Garrinchas, Rivelinos e outros “monstros sagrados” do futebol mundial e nacional.

         Então, reunir o lote de boêmios farristas para encarar até mesmo um catadinho de Tanquinho era uma temeridade. E querem saber? Que eu me lembre (e olha que eu sou velho), Tanquinho nunca teve uma equipe disputando o campeonato estadual, nunca teve futebol profissional. O fotojornalista Reginaldo (Tracajá) Pereira, foi liderando a turma do jornal Feira Hoje para o “passeio”. E foi um passeio mesmo, pelo menos para mim, que tinha passado a noite num baile pré micaretesco, e o passeio que nós tomamos da equipe local. Pra começo de assunto, a gente não tinha nem transporte pra ir pra Tanquinho. Eu tive que tomar uma Kombi emprestada de um amigo pra levar parte do time, e outros iriam em carros particulares levando mais alguns “jogadores”. Eu peguei a Kombi na véspera e deixei na porta de casa (nem garagem eu tinha).         Já tinha ido na sexta-feira, cobrir o baile, Noite das Estelas, do meu Amigo Edinho Baptista, e no sábado, cobri o Tradicional baile Caju de Ouro. Quando saí do baile, nem entrei em casa, peguei a Kombi na porta e fui buscar o pessoal. Reginaldo estava dormindo dentro do seu fusquinha, na porta de minha casa, tão bêbado que deu trabalho pra acordar. Os outros também não estavam muito melhores.

         Chegamos em Tanquinho e encontramos Valter Vieira, que fora de carro próprio levando mais uma leva de “jogadores”. No estádio municipal, a gente se preparava para enfrentar o sol de 10 horas da manhã. Deixamos uma caixa de isopor com cerveja gelada à beira do campo, aos cuidados da mulheres, e vestimos “roupa de briga” (uniformes). Quando eu vi que havia jogadores suficientes para enfrentar a “parada”, eu declinei da minha participação, dizendo que entraria no segundo tempo. Bola vai bola vem, o time até que resistia bravamente e o primeiro tempo terminou com o nosso time perdendo de pouco. Quando estava para começar o segundo tempo, Reginaldo me perguntou se eu queria entrar, e eu respondi: Você tá louco? Eu estou aqui com Noite das Estrelas numa perna, Caju de Ouro na outra, tu achas que eu vou jogar o que? Nem bola de gude. Ainda mais com essa “lua” que tá fazendo”. 

        O segundo tempo começou e tomamos logo mais um gol. Aí a turma começou a entregar os pontos, “esculhambar”. Moacir Freitas, que era o beque central (naquele tempo existia essa posição), quando a bola chegava nele, dava um chute, o mais forte possível, para jogar a bola no campo do adversário, e corria pra tomar um gole de cerveja gelada na beira do gramado. Outros aderiram à mesma estratégia, e levamos seis gols contra o solitário “gol de honra” que algum desavisado marcou.

         Final de jogo, abraços e confraternizações, o sentimento do dever cumprido, e a farra seguiu tarde afora até a hora de voltar pra casa. E tudo bem, porque nós só fomos mesmo pela farra.

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