segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Segunda é dia de CRÔNICA: O beijo

Quando a boca beija o beijo o desejo, nesse ensejo, inunda ilhas – a mil milhas- dali. O beijo nos lábios com a boca fechada vem do latim basium; na bochecha e mãos do osculum; os da paixão do suavium. O que é uma falha, visto que beijo apaixonado nada tem de suavium, como sabe quem já foi exaurido pela atração vulcânica de lábios se devorando, devotando, derretendo, fundindo o agora, o eterno e o depois.

A regra da boa conduta diz que se começa pelo osculum, chega-se ao basium e quando menos se espera tá rolando suavium em tudo que é lábio- sei que vocês manjam dos movimentos. Nem sempre a sequência é respeitada e, às vezes, vem tudo misturado em uma desordem de deixar o coração na vertigem de um vinil em 78 rotações.

Cientistas não sabem se o beijo é um comportamento instintivo ou aprendido. Ninguém sabe, mas toda vez que ela passa de vestidinho, dona de tremendo balacobaco, pelo caminho do destino, nossos instintos com toda sinceridade ficam loucos de vontade para mostrar tudo que temos aprendido nas últimas cinquenta encarnações- nesse assunto nunca é desprezível a doma da experiência sobre a ligeireza e objetividade dos estreantes.

Acredita-se que 90% dos humanos pratiquem o beijo. Os 10% restantes mentem um pouco a respeito, afinal, nem sempre cai bem para alguns saírem beijando por aí.

Os primeiros relatos sobre o beijo vêm da Mesopotâmia-não à toa terra do leite e do mel- e tem 4500 anos. É possível que tenha um “boca a boca” anterior, mas não tinha vigilante social para divulgar a vida alheia. Não sabemos quem veio primeiro: o beijo ou o humano. Seria triste descobrir que o primeiro humano nasceu sem o aval do beijo primordial- mas explicaria todo mal-estar, sofrimento e desajuste atual. Como me disse João Calça Curta, filósofo labial: uma boca que abocanha a boca que lhe devora é como um buraco negro que mata a fome comendo estrelas. João, anda me surpreendendo.

Lembro que na minha infância tinha um doido. Apelidado de Barraterobis, homenagem ao filósofo Thomas Hobbes. Repetia a mesma pergunta infinitamente: quantos paladares tem a maçã?

-Um paladar, respondíamos.

-Não. A maçã tem 5 bilhões de paladares ( beijos já fizeram mais três bilhões) , porque eu tenho um paladar da maçã, você tem um paladar da maçã, ele tem um paladar da maçã.

Sei que ninguém beija o mesmo beijo, os mesmos lábios, duas vezes, mas não sei quantos paladares tem o beijo. Sei, no entanto, que só quero o beijo que tem o paladar do dela. E ela sabe do que estou falando.

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