Era um bom sujeito o Oscar
Jaboti. Era bem apessoado, bem falante, e se achava irresistível com as
mulheres, embora ninguém nunca o tenha visto com uma namorada e nunca tenha se
casado. Trabalhava como ascensorista de elevador no prédio do jornal em que eu
trabalhava, mas se apresentava como “técnico em ascenção vertical”. O nome
verdadeiro dele era Abedenagno, mas ganhou o apelido por conta da sua paixão
por cinema e literatura. Assistiu muitos filmes, e embora não entendesse bem o
enredo, decorava o nome dos atores. Sua dificuldade em ler legendas fazia com
que ele trocasse nomes de personagens, ambientes e até dava sua própria
interpretação sobre a trama. Assim, não raro, esquecendo o nome do filme, ele
dizia que era aquele em que um velho rico levava um casal com filhos e mais uns
amigos para passar um fim de semana em sua fazenda onde ele criava uns bichos
esquisitos que comiam uns aos outros e até gente.
Leu
muitos livros também. Só os resumos nas capas, porque, como sujeito ocupado e
pragmático que era, não gostava de perder tempo com tanto “palavrório inútil”,
já que o resumo da estória estava bem ali. Talvez por isso ele confundisse um
pouco as coisas, e achava que Allan Poe era um corvo que sabia falar e que fez
uma ponta num filme em que um macaco matava gente numa cidade. Ele falava
também sobre um “jogaço” que teve há muito tempo pela Liga dos Campeões da
Europa, entre os Bolcheviques da Rússia e os Césares da Itália. Segundo ele, o
jogo foi apitado por um tal de Napoleão Bonaparte, que só era bom mesmo numa
parte, porque em outras deixou muito a desejar, e por isso mesmo foi banido dos
quadros da Liga e foi apitar jogos numa ilha distante.
Ele
fazia incursões por outros campos das artes, e segundo ele, Van Gogh foi um
pintor que fazia uns desenhos esquisitos e que teve uma orelha cortada por uma
cliente insatisfeita a qual ele havia retratado. Assistiu a algumas peças
teatrais e a que ele mais gostou foi aquela em que todos os atores apareceram
nus no palco. “Cada mulherão”, lembrava ele entre suspiros. Certo dia
apresentaram a ele um pintor que fazia uma exposição de quadros sobre a Guerra
de Canudos. Na sua rápida conversa com o pintor, ele ficou sabendo que “o
grande general” da Guerra de Canudos fora o Antônio Conselheiro, e quis logo
saber se o homenageado se encontrava presente no local. Informado de que o
“General” havia morrido na guerra, ele ficou assim meio que triste e
decepcionado. Depois de entornar o resto do conteúdo de uma taça de vinho, comentou
entre os dentes: “Então ele não era lá grandes coisas como General”.
Encontrei
Oscar Jabuti há alguns anos, aqui em Feira de Santana. Estava de passagem
viajando para a região do Rio São Francisco, onde iria procurar seu grande
amigo e parceiro, “Velho Chico” que ele soube que estava muito doente, quase
morrendo, e ele queria saber se podia ajuda-lo.
Era um
bom sujeito, o Oscar Jaboti.
Cristóvam Aguiar - Março de 2017
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