domingo, 1 de dezembro de 2024

 


MICROCONTOS, pausas para meditação

 

            ÚLTIMO ACENO

Na Grécia antiga, Vênus e Alexandre, apaixonaram-se loucamente.

Amor platônico, sem beijos nem abraços.

Um dia, Hades, o senhor das trevas, para agradar a morte, sequestrou Alexandre.

Vênus, petrificada, não pode, sequer, acenar o último adeus ao bem amado.

Faltavam-lhe os braços.

            DOCE ILUSÃO

            Fenômenos astrológicos lastreiam medidas da imaginária concretude temporal. 

          Na realidade macro universal, porém, tudo se mantém estável: não nos é dado entender, sermos nós, os passageiros. O tempo, simplesmente, é! A ele, as divindades são imanentes e nele habitam. Ficção. 

Doce ilusão. 

           BURACO NEGRO

            Dizia-se ser um ‘buraco negro’, o círculo pintado de preto naquela folha de papel.

           Ao vigilante noturno, acudiu a ideia de encostá-la na caixa-forte. Mão e braço invadiram o cofre. Retirou maços de dinheiro. Queria mais. Então, conseguiu entrar.

           A folha despencou.

           Até hoje o vigilante é procurado

.           ENREDOS

            Abajur desligado. Gelado silêncio de junina noite hibernal.

           Duas amigas, aquecidas, dividiam na mesma cama, risinhos, cochichos, suspiros, sussurros. O garoto, acomodado em outro leito, apurou ouvidos, mas nada entendeu.

           Hoje, homem feito, aprendeu serem os lençóis, testemunhas de muitos enredos.

            PREMONIÇÃO                                   (Condensação do conto A CARRUAGEM da escritora Regiane Nunes)

            Lúgubre carruagem em sonhos de minhas insônias. Vozes de lá, indagavam: “De que és feito mortal, que me engoles em nossos ontens? ”  O Vento Leste, soprava algo que teima em não passar no tempo que não foi. Malgrado o susto, tratava-se de uma carruagem qualquer, abandonada.

           Talvez assim seja a morte.                           

 

          ‘SEMENGRAFIA’

            O cara casou, juventude em flor.

           Apreciava cultivar amor; semeou em mais três jardins.

           Plantou 10 robustos arbustos – alguns já vetustos - que o tratam por PAI.

          Agora, 22 rebentos, segunda floração, conhecem-no por VOVÔ,

         e 7 brotinhos da terceira, chamam-no BISO.

         O nome do valentão?

          Ele se chama Hugo Adão!

 

Hugo Adão de Bittencourt Carvalho (1941), economista, cronista, é autor do livro virtual

Bahia – Terra de Todos os Charutos, das crônicas Fumaças Magicas e Palavras ao Vento,

participa do Colares – Coletivo Literário Arte de Escrever. Vive em São Gonçalo dos Campos - BA
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