sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Artigo da Semana

A influência da Maçonaria na sociedade

Corria o ano de 1992 quando, em conversa com José Carlos Dias da Cruz, que era meu vizinho numa galeria onde tínhamos nossos estabelecimentos comerciais, e eu, sabendo que ele era maçom, disse-lhe que estranhava o fato de que o trabalho social da Maçonaria não aparecia. Foi então que ele me apresentou como candidato a maçom e, no dia 5 de dezembro daquele ano, eu recebia o meu certificado de aprendiz.
Desde pequeno me interessava pela Maçonaria. Primeiro, o mistério, as histórias do bode preto, do pacto com o demônio. Para espicaçar ainda mais a minha curiosidade, fui morar em frente ao terreno no qual vi ser construída a loja Luz e Fraternidade. Do primeiro andar da minha casa, via, nas janelas do primeiro andar da loja, a ponta de uma misteriosa varinha percorrer o que eu supunha ser um salão, e ficava intrigado com as pancadas que ouvia.
Mais tarde, observando os maçons, percebi que eram homens de bem, em geral bem sucedidos financeiramente, dedicados às suas famílias e às causas sociais. Eram também homens de fé. Desfazia-se assim, na minha mente, o mito do bode preto e do pacto com o diabo. Depois, percebi o quanto a Maçonaria foi importante na História do Brasil e o quanto ela ainda participava ativamente das grandes decisões nacionais e, claro, da construção física e histórica de Feira de Santana.
Foi com alegria e honra que recebi o convite para ser um maçom. Quase não acreditava que iria perfilar entre o seleto grupo de pessoas pelas quais tinha admiração e buscava seguir o exemplo. Fui para a Maçonaria com um único pensamento: Servir aos meus semelhantes. Mais tarde, por conta dos meus próprios erros, não pude mais arcar com os custos financeiros de ser maçom, e por isso me afastei, esperando o momento em que pudesse voltar a freqüentar a minha loja, a querida 16 de Junho.
Voltando ao tema central desse artigo, eu ainda hoje questiono: Onde está o trabalho social da Maçonaria? Confesso que não sou freqüentador de sessões em outras lojas que não a minha, mas sempre que fui convocado a participar de alguma atividade social, nunca me neguei. Como diz o salmista: pela ovelha perdida, não medi meu suor.
Quando cheguei à 16 de Junho, a loja mantinha um ambulatório médico que atendia à população daquela região do bairro Santa Mônica, onde ela está instalada. Um trabalho que persistia apenas pela abnegação do irmão Jorge Karam. Havia ainda o trabalho da Ala Feminina, que distribuía sopa, cobertores e cestas básicas entre os mais necessitados.
Mas eu pergunto: é esse o nosso papel? Não seria dever do Estado, abrigar, alimentar, dar emprego e atendimento médico hospitalar a todos os cidadãos? Resta ainda a máxima cristã de que é melhor ensinar a pescar do que simplesmente dar o peixe. Ou como nos versos de Luiz Gonzaga e Zé Dantas: “...uma esmola, pra um homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.
A atual secretária de Ação Social do nosso município, professora Lúcia Miranda, tem a sua maior frente de batalha na luta contra a mendicância profissional. Feira de Santana conquistou a fama de cidade generosa, e por conta disso, mendigos dos mais diversos lugares, até mesmo de outros estados, vêm para Feira em busca das esmolas que aqui se distribui fartamente.
Não! Não creio que o trabalho social da Maçonaria seja apenas distribuir esmolas. Algumas lojas, a exemplo da própria 16 de Junho avançaram um pouco neste sentido, e através de convênios com a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), montaram laboratórios para prestar serviços de odontologia para quem não pode pagar, e em troca treinando os futuros profissionais que serão formados pela UEFS.
Isso sim, é um trabalho de valor. Mas ainda é pouco. A Maçonaria, pela sua própria história, não pode se reduzir a uma mera prestadora de serviços aos mais carentes. No meu modesto entendimento, o seu trabalho social tem que ser elevado a um nível mais alto. O nosso País atravessa uma das suas piores fases, justamente por conta da falta de políticas públicas para Educação e Saúde, exatamente nesta ordem.
A questão da insegurança pública é gerada justamente pela falta dessas políticas públicas. E onde se encontra a Maçonaria neste processo? Onde estão os nossos vereadores, prefeitos deputados senadores, juízes, desembargadores? O que fazem os nossos representantes na Imprensa?
O que será da Maçonaria brasileira se os maçons não conseguem sequer, como lhes é recomendado, “divulgar, sem reserva de lugares, os ideais da nossa Ordem”.
Há 29 anos trabalhando como jornalista, acompanhando os trabalhos das nossas autoridades, reconhecendo entre elas diversos irmãos maçons, posso afirmar que nunca os vi ou ouvi agir com o ideal maçônico. Nunca ouvi, na Tribuna da Câmara Municipal, nenhum vereador maçom falar ou agir em nome dos ideais da Maçonaria.
Entendo que a participação da Maçonaria, dentro da sociedade organizada, tem que ser muito maior. Chega um momento em que apenas os nossos rituais simbólicos não bastam. É preciso passar da palavra à ação. Não podemos ficar na esperança de que tudo irá se ajeitar. Os estados do Rio de Janeiro e São Paulo já vivem uma guerra civil, embora não oficialmente declarada.
Que ninguém pense que ela não chegará até nós. As nossas leis equivocadas, a nossa omissão em agir, o errôneo conceito de Direitos Humanos, que favorecem apenas aos delinqüentes e, principalmente, o nosso medo, a nossa covardia, certamente irão nos levar pelo mesmo caminho por onde andaram Rio de Janeiro e São Paulo. Já vivemos uma situação pré guerra, onde os cidadãos estão enclausurados em suas casas, como que entrincheirados, e os bandidos estão do lado de fora, prestes atacar, até porque sabem do nosso medo, na nossa fraqueza.
Lembro que toda grande nação passou um dia por uma guerra, e na sua reconstrução, na reconstrução dos seus ideais e valores do seu povo, o investimento em Educação e Saúde foi fator primordial para o soerguimento daquelas nações.
Tomemos como exemplo o Japão e a Espanha. O primeiro, arrasado, na segunda guerra mundial. O segundo, em estado de indigência social, após o período em que reinou a ditadura do generalíssimo Franco. Ambos, à custa de muita disciplina e investimentos nestes dois campos, são hoje, cerca de 20 anos depois, duas das maiores potências econômicas mundiais.
Lembro o poema, “No Caminho com Maiakovsky:

“Na primeira noite eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite já não se escondem, pisam nas flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada, já não podemos mais dizer nada”.

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