sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Crônica da Semana

Acabando com a festa

Feira de Santana não fica devendo nada a nenhuma grande cidade, quando o assunto é boiolagem. O feirense gosta de curtir com a cara do pessoal de Riachão do Jacuípe, dizendo até que a Transviadônica, rodovia imaginária que corta o Brasil de Sul a Norte, passa por lá e que o ônibus faz ponto em baixo do famoso pé de Barriguda existente na praça da Matriz, daquela simpática cidade.
Reza a lenda que o tal pé de Barriguda é mágico. Rapaz que senta em baixo dele, sai falando fino, e moça sai falando grosso. Daí que o ônibus que percorre a Transviadônica, sai lá de Pelotas, no Rio Grande do Sul, passa por Campinas, em São Paulo e, na sua passagem pela Bahia, para justamente em baixo do famoso pé de Barriguda.
Mas, voltando a Feira de Santana, eu tenho a impressão que este ônibus também faz suas paradas aqui. Em 1968, sem muito o que fazer na loja onde trabalhávamos, eu e Fernando Peixoto nos demos ao trabalho de fazer o senso da boiolagem em Feira de Santana. Registramos mais de 400. Somente trabalhando (trabalhando aí é força de expressão) na Prefeitura Municipal, contabilizamos 22. Dois times completos. Soubemos até que estavam querendo contratar reservas.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, 5% da população mundial é formada por homossexuais, masculinos e femininos. Porém, o presidente de um grupo gay feirense, afirma que a população homossexual da cidade já ultrapassa a barreira dos 50% (tô pensando seriamente em me mudar). O certo é que a cidade tem muitos gays a coisa vem de longe.
Nos idos anos 60, uma época em que ter um gay entre os seus membros era motivo de vergonha e desdita para toda uma família (há até um caso de um pai de família que se suicidou ao saber que o filho era gay), um episódio marcou época. Naquele tempo eram comuns os “assustados”. Eram festinhas familiares promovidas pelos jovens, geralmente realizadas na casa de alguém.
Havia na cidade um jovem mancebo, a quem vamos chamar de Manezinho. Era um rapaz delicado, fino, educado e muito generoso. Imaginem que ele só tinha um objeto, mas mesmo assim queria dar para todo mundo. Ele era amigo de Raimundo, apelidado de Zoião, devido aos seus olhos muito redondos e salientes.
Um belo dia os jovens, da então pequena e pacata cidade, resolveram realizar um “assustado” numa chácara localizada às margens da rodovia Feira-Salvador. Locaram um ônibus para levar a rapaziada e os pais foram em seus carros particulares. Tudo ia muito bem, até que flagraram Manezinho dentro do ônibus dando o seu objeto para outro jovem mancebo. Desnecessário seria dizer que houve um constrangimento geral e que a festa terminou naquele exato momento.
Anos depois, alguma desavença houve entre Manezinho e Zoião, e os dois estavam discutindo forte dentro da loja de Zoião. Grita daqui, responde de lá, Zoião resolveu encerrar a discussão com o seguinte argumento:
“Tu não presta Manezinho. Quer saber? Eu já vi homem acabar com festa na porrada, no tiro, na esculhambação. Tu, Manezinho, acabou uma festa com o fiofó!”

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