sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Cronica da Semana
Tão
Até o nome dele é pequeno, mas o baixinho é tinhoso, esperto mesmo. Nasceu numa pequena cidade da Bahia, na Chapada Diamantina, e embora tenha se mudado para Feira de Santana ainda criança, nunca perdeu suas raízes. Inclusive, ainda conserva por lá um pequeno pedaço de terra e muitos amigos. Ainda muito jovem formou-se em Medicina, especializando-se em Saúde Pública.
E foi na condição de médico que ele seguiu com uma caravana do DETRAN para realizar exames em candidatos a tirar a Carteira Nacional de Habilitação, em cidades do interior da Bahia. E numa determinada cidade, ao fim do dia, foram todos da Banca Examinadora, beber num bar. Quando Tão estava no balcão, um cidadão se aproximou e disse-lhe: “Doutor. Eu quero o endereço do seu consultório em Feira de Santana. Eu quero lhe fazer uma consulta, pois, pelo que o senhor me disse, eu sou cego”.
Intrigado, Tão perguntou se ele havia sido reprovado no exame. Diante da resposta afirmativa, ele mandou que o cidadão lesse os números no calendário pendurado na parede do fundo do balcão. O cara não só leu os números dos dias, como também as fases da lua e todos os números e letras pequenas das bordas e do rodapé do calendário.
Mais intrigado ainda, Tão disse a ele que o procurasse no outro dia, pois iria refazer seu exame de vista. Quando o cidadão chegou, ele o colocou num aparelho que tem dois orifícios. A pessoas senta em frente ao aparelho, apóia o queixo numa plataforma, e fica olhando pelos dois furos. O médico antão fecha um dos orifícios e manda que o candidato feche aquele olho, para que, com o outro aberto, leia as letras e número que aparecem na frente.
Quando ele fez isso, o sujeito disse que não estava vendo nada. “Não é possível”, disse ele. Tentou com o outro lado, e o sujeito continuava a dizer que não estava vendo nada. Ele então passou para o outro lado. Foi quando percebeu que o indivíduo estava fechando justamente o olho do lado em que o orifício estava aberto.
Nestas caravanas também ia um dentista. Um dia, Tão acabou de atender aos candidatos, e foi esperar o dentista terminar para ir com ele até o bar. Chegando lá, ele notou que o dentista, toda vez que extraia um dente, corria até uma mesinha e anotava alguma coisa. Curioso, ele foi ver o que era, e descobriu que era um volante da Loteria Esportiva. Quando o dente extraído era do lado esquerdo, ele marcava coluna um. Se era do lado direito, coluna dois, e se era frontal, coluna do meio. Dois dentes era palpite duplo, e extrair um dente errado, era zebra. Um dentista lotérico.
Existem coisas que só acontecem com Tão. Por exemplo, ele foi a uma cidade a convite do prefeito, seu amigo, que iria inaugurar uma quadra poliesportiva. E da programação constava um jogo de basquete. Com muita festa o jogo foi realizado e acabou empatado em 0 X 0, pois a bola teimava em não entrar na rede. Curioso, ele foi verificar o que estava acontecendo. Descobriu então que haviam mandado o serralheiro do lugar confeccionar os aros para colocação das redes. O serralheiro havia medido o diâmetro dos aros por uma bola de futebol, que é bem menor que uma de basquete. Foi a primeira vez na história do esporte, que um jogo de basquete terminou em 0 X 0.
Os amigos de Tão são sempre alvo para suas brincadeiras. E um deles tem o sobrenome de Amor. E numa viagem com Amor e outros amigos, chegaram a uma cidade e foram até um balneário, onde encontraram umas moças e as convidaram para beber. Mas, Amor sentou em outra mesa, com outra pessoa. E as moças questionaram o porque dele na sentar na mesma mesa.
Malandro, Tão disse que Amor não gostava de mulher, e que, inclusive, estava patrocinando a viagem deles. O que ele não disse, é que, por Amor ser muito organizado e honesto, eles o nomearam tesoureiro da viagem, confiando a ele todo o dinheiro para o pagamento das despesas. E assim, ele dizia para as moças: É gay. Paga tudo que a gente quer. E gritava para a outra mesa: “Amor, paga essa conta da gente aqui”. Sem saber de nada, Amor sorria e pagava.
Uma outra vez, ele levou Amor para passar uns dias na sua fazenda. E lá, entre uma conversa e outra, ele perguntou ao administrador: Você já emplacou o burro? O rapaz, já afeito às brincadeiras de Tão, entrou na onda e disse que não, porque o delegado insistia que ele teria que colocar sinaleiras e retrovisores no animal, e só assim poderia obter a licença. Crédulo, Amor entrou na conversa e disse que aquilo era um absurdo. “Não pague não! Isso é roubo! Onde já se viu emplacar burro”!
Tão é brincalhão, mas também é muito humano. No exercício da sua profissão de médico, ele não faz distinções de pessoas, atendendo a todos de igual maneira, inclusive até em prejuízo do seu descanso. E foi assim que ele foi chamado em sua fazenda para atender a uma criança enferma num povoado próximo.
Chegando lá, ele constatou que o caso era grave, e levou a criança para um hospital na cidade, permanecendo com ela até o seu total restabelecimento. Grato, o pai da menina, que era um pistoleiro conhecido na região, o procurou e disse-lhe: “Doutor, o senhor salvou a vida da minha filha, e eu não tenho outro modo de lhe pagar, a não ser com o meu trabalho. Quem é que o senhor quer que eu mate”?
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