Benzinho e Amorzinho

Moravam em Riachão dois senhores, amigos inseparáveis, respeitados pais de família, que de gay não tinham nada, mas cujos apelidos poderiam sugerir muitas coisas a quem não os conhecesse de perto. Como em toda cidade interiorana, é comum botar-se apelidos, este caso não foi exceção, apelidados que foram como “Benzinho” e “Amorzinho”.
Um incauto caixeiro viajante, que se encontrava pela primeira vez trabalhando naquela “praça”, andava todo desconfiado, pois já conhecia a fama do lugar. Durante a lida do dia, ele não viu nada de extraordinário, mas foi à noite, na hora em que os bichos (?) saem da toca para caçar, que a coisa aconteceu.
Cansado de um intenso dia de trabalho, o viajante resolveu esticar as pernas na praça, onde havia muitos bares e uma brisa gostosa se vazia sentir, contrapondo ao calor infernal do dia, o que é muito comum nestes sertões.
Sentado à mesa de um bar, o viajante bebericava sua cervejota e se espantava com a quantidade da fauna que via desfilar na rua. Esquivando-se meio sem jeito de olhares furtivos da bicharada, o viajante ruminava seus pensamentos, sem querer acreditar no que via:
- Vá ter bicha assim no raio que o parta...
Estava ele imerso nestes pensamentos, sem saber que no mesmo bar, numa mesa vizinha a sua, conversavam animadamente, numa roda de amigos, os dois personagens principais desta história. Lá para as tantas da noite, um deles resolveu se despedir. Levantou-se da mesa e falou com o amigo:
- Benzinho, eu já vou embora.
- Tá bem Amorzinho, amanhã então a gente torna a se ver...
Foi demais pro viajante. Ele se levantou e passou uma descompostura nos perplexos cidadãos que não entenderam nada:
- Onde já se viu, até dois velhos barbados, de cabelos brancos, que deveriam se dar ao respeito... assim também já é demais, ora bolas...
*Crônica extraida do livro A Levada da Égua, de Cristóvam Aguiar
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