terça-feira, 17 de maio de 2011

Intenção e gesto


Conta e história que certo dia, durante os Jogos Olímpicos em Atenas, na Grécia, uma senhora procurava assento entre a torcida ateniense. Sem encontrar lugar e ninguém disposto a lhe ceder lugar, foi procurar entre a torcida espartana. Tão logo chegou lá, alguém se levantou e lhe cedeu o lugar, gesto este que mereceu aplausos dos atenienses. Os espartanos, laconicamente, comentaram: “Sabem. Mas não praticam”.
Isso é que vemos acontecer diariamente no cotidiano dos dias atuais. Pessoas que detêm muito conhecimento, mas não o empregam na prática. Sabe-se que a gentileza deve ser praticada e cultivada diariamente entre gente dita civilizada. No entanto, quem vê, nos dias de hoje, alguém se levantar para dar lugar a uma senhora, a um idoso, ou simplesmente tomar uma criança no colo para dar descanso à mãe que se encontra em pé?
Hoje em dia ser gentil é sinal de fraqueza. Se por uma questão de educação doméstica, cedemos o nosso lugar no ônibus, cedemos a nossa vez na fila para um idoso ou uma gestante, somos vistos, no mínimo, como “otários”. Se você vive em harmonia com sua família, não toma decisões importantes sem ouvir sua mulher e filhos, é corno, viado ou pau mandado. Se você acha algo valioso e devolve ao dono, é um idiota.
E assim seguimos o nosso cotidiano julgando aos outros de acordo com o que nós mesmos somos e pensamos. Não há lugar para gentilezas, pois são vistas como fraquezas, idiotices. Até mesmo aqueles que receberam dos pais uma educação caseira de qualidade, hesitam em praticar o que aprenderam para não se sentirem envergonhados diante da maioria das pessoas que não recebeu a chamada “educação de berço” e, por isso mesmo, julgam os outros por si mesmos. É preciso praticar o que aprendemos. Não adianta andar rezando pelas igrejas e dizendo a Deus o quanto somos bonzinhos e merecedores das suas Graças. A quem estamos enganando? A Deus é que não é.
Mas a hipocrisia e cretinice reinantes faz com que as pessoas saiam por aí pregando e exigindo dos outros a prática dos bons princípios e da boa educação doméstica. Porém, tudo na base do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Eu tenho o direito de ser grosso, mal educado e violento com os meus semelhantes, mas, eles não podem agir assim comigo”. Esse é o pensamento geral.
Furamos as filas, invadimos os sinais, portamos armas, roubamos, matamos, praticamos pedofilia e turismo sexual, espancamos mulheres e crianças, esbanjamos o dinheiro público, damos jeitinhos para burlar concursos, não respeitamos pedestres, discriminamos as minorias étnicas, os gays, e, principalmente, os pobres. Todos se sentem superiores a todos e acima das leis dos homens e de Deus.
Não vou nem falar aqui das conseqüências de tal comportamento. Afinal,Deus nos deixou o livre arbítrio para que vivamos de acordo com a nossa consciência. E cada uma é única, individual. Exigimos tudo dos outros, mas não damos nada. Há muita distância entre intenção e gesto.
Mas, um dia, tão certo quanto Deus existe, nesta ou em outra vida, neste ou em outro planeta, nesta ou em outra dimensão, um preço será pago por isso. Todo mal e sofrimento que impomos aos nossos semelhantes, nos será cobrado.
Se você não acredita nisso, o problema é seu, não meu.

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