São inúmeros os depoimentos de pessoas que na infância trabalharam um turno e estudaram em outro. A vida seguiu o seu curso natural, e quem era apto ao estudo, se formou, virou doutor, e quem era mais voltado ao serviço técnico (mecânico, pedreiro, eletricista) também venceu na vida, embora levando uma vida mais humilde. Outros, com tino para o comércio, até enriqueceram.
E melhor de tudo é que a maioria continuou cultivando as amizades feitas na infância e na adolescência, e se respeitavam independente da condição social e financeira de cada um. A vergonha, o ostracismo, a marginalidade, ficou para quem não trabalhou nem estudou e sempre viveu de espertezas, roubando e até matando. Outros entraram para a política.
São muitas também as ocorrências de fatos nos dias atuais em que a proibição do trabalho infantil resultou em tragédia. Aqui mesmo em Feira de Santana, temos exemplos de crianças que foram proibidas de trabalhar, mesmo no auxílio aos pais, e acabaram se envolvendo com a vagabundagem, com as drogas, e acabaram mortas por quem deveria protegê-las.
O problema é que não se sabe separar trabalho de exploração e palmadas de tortura e mutilação. Uma criança que auxilia seus pais na lida diária, é diferente de uma criança que é explorada por pessoas inescrupulosas que as submetem a trabalho escravo e não condizente com a idade que têm. Os cortadores de cana, por exemplo. Uma criança que desobedece seus pais e pratica um ato ilícito, pode ser castigada com palmadas, chineladas ou até uma sova de cinto. Mas é diferente daquela que é torturada pelos seus pais ou parentes, muitas vezes apenas porque choram de fome ou dor. É preciso saber diferenciar estas coisas e não generalizar, como se qualquer trabalho ou castigo paterno se constituísse numa monstruosidade praticada contra crianças inocentes.
Mas há algo que vem me intrigando ultimamente. A toda hora ouço pessoas pregando contra o trabalho infantil com tal veemência que beira o rancor, a raiva. Algumas chegam a ter lágrimas nos olhos quando falam que uma criança está sendo “forçada” a trabalhar. Apelam até para os poderes constituídos para que impeçam e até prendam os pais.
Mas, vejam, eu não ouvi até o momento nenhum pronunciamento contra o trabalho infantil na televisão e no cinema brasileiro. Quer dizer então que filho de rico e famoso pode trabalhar, mas o do pobre não. E essas crianças do cinema e da TV trabalham até em programas proibidos para menores. E só pra lembrar, o ator mirim que fez o filme “Pixote”, provando da fama e depois abandonado à própria sorte, aproveitando a experiência adquirida no filme, se envolveu com a marginalidade e acabou morto pela Polícia.
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