sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Jornalismo “Chapa Branca”

O chamado jornalismo “Chapa Branca” é oriundo das assessorias de comunicação praticadas por profissionais de imprensa que são contratados por políticos ou por casas legislativas, prefeituras, governadoria e presidência, para divulgar matérias de interesse dos seus assessorados. Ou seja, publicam somente aquilo que seus patrões permitem publicar. As mazelas, as picuinhas, as brigas, os escândalos, são devidamente abafados e não aparecem na mídia oficial.

A presidente Dilma Rousseff descobriu que o rádio é um veículo de comunicação tão eficaz ou mais que a televisão, e resolveu utilizá-lo para fazer chegar à população as notícias que lhe interessam. Para tanto, seus assessores deverão escolher os programas e os apresentadores que deverão entrevistá-la e estes só poderão fazer as perguntas que já lhes serão entregues prontinhas. Ou seja, vão ditar quais as perguntas que poderão ser feitas à presidente.

Comigo não. Eu não creio que a presidente Dilma deseje que eu a entreviste, mas não tenho o menor interesse em entrevistar quem quer que seja com perguntas programadas previamente. Posso até aceitar que um tema seja escolhido para a entrevista, mas fazer perguntas direcionadas previamente não.

Há quem diga que agindo assim eu posso ficar marcado e vir a ser prejudicado pelos donos do poder. E eu digo: E daí? Olhem bem pra mim. 57 anos, 32 de jornalismo, contando os dias para me aposentar, passei a minha vida inteira me recusando a receber imposições de quem quer que seja, acham mesmo que iria aceitar isso agora? Não é por acaso que a minha marca é “Sempre Livre”.

Não sou rico e não pretendo ficar bajulando os poderosos do dia. Ao longo da minha vida vi a ascensão e queda de muita gente, a maioria já gozando do descanso eterno. O poder vem e vai, mas a vida permanece. Quando algum poderoso da vez resolve bater no peito e me dizer eu sou isso ou aquilo, eu respondo: Você está isso ou aquilo, e pode deixar de ser a qualquer momento. Enquanto que eu sou jornalista e vou continuar sendo até o dia em que me aposentar ou morrer.

Respeito às autoridades constituídas, mas elas também me devem respeito, afinal estão lá pagas por mim e para me servir, e não ao contrário. E respeito não se impõe, se adquire. É claro que não condeno quem aceita fazer o jornalismo “Chapa Branca”, afinal todos somos livres para fazer nossas escolhas. Eu fiz a minha.

E também não devemos confundir jornalismo Chapa Branca com o trabalho de assessoria. Um bom assessor de comunicação sabe separar as coisas. Quer dizer, ele pode ser assessor de um político e divulgar os feitos do seu assessorado, sem, contudo, ter envolvimento político com ele. E a título de preservar a própria dignidade, deve sempre se recusar a defender o indefensável.

Um comentário:

Alexandre disse...

Parabéns, Cristóvam. Você como sempre falando a verdade, sem medo de ser feliz. Infelizmente em nossa cidade tem muito jornalista chapa branca. Os que têm compromisso com a verdade e a ética, é um número bastante reduzido.