
O Natal se espalha pela terra como os zumbis da série de TV "Os Mortos Vivos". Se repararmos bem, dá para se ver claramente a semelhança entre um morto-vivo e um pai ou mãe nas compras. Aquele olhar vago, os dentes à mostra, as mãos crispadas.
Tudo isso para comprar um presente para o Zequinha, outros com seus equivalentes locais, enfeites para a árvore de matéria plástica, lembrancinhas para a família que vai se reunir no almoço do dia 25 para trinchar o presuntaço ou o peru comprado a preço de ocasião no açougueiro ladrão da esquina. Haja gemada, vinho vagabundo e televisão aos berros que aguente.

No interior do cracker, juntamente com uma adivinhação ("O que é o que é que tem pernas mas não corre nem as abre por dinheiro algum?"), um mimo (um apito ou qualquer coisa que faça barulho e azucrine o gato) e uma coroa ou chapéu de papel crepom que os desgraçados participantes dos festejos natalinos devem usar até a bendita hora de ir para casa e poder discutir no particular com o cônjuge com ganas de matar em vez de ficar trocando desaforo e dando vexame na frente de todo mundo durante toda a duração do natalino almoço. O cracker, depois do bolo de Natal empapado em conhaque vagabundo que se acende e quase bota fogo na casa inteira, é a segunda grande instituição do almoço de Natal.
Abrir os presentes é um dos maiores exercícios de hipocrisia que uma pessoa pode praticar. É quando os menores de 13 anos começam a aprender mais sobre as canalhices da vida. Deve-se abrir toda caixa ou embrulho com o maior cuidado, dobrar o papel meticulosamente e, antes de saber o que é (uma gravata, um telefone de plástico, nunca um laptop, videogame ou iPhone), já se ir sorrindo e dizendo, "Puxa, mas é exatamente o que eu queria!".
Às 3 da tarde, os 15 minutos da Rainha na televisão discorrendo sobre um tema que uma comissão decidiu por ela. A importância da preservação das espécies, o aquecimento global, a solidariedade entre os povos, a aproximação entre as pessoas via as redes de comunicação social, por aí. Embora seja repetida em outra estação uma hora mais tarde, ninguém presta atenção. A Rainha não é para dizer nada, basta ser Rainha e não usar a coroa de crepom.
Nunca sai resenha no jornal no dia seguinte. Ninguém sabe, ninguém viu, ninguém estava lúcido ou sóbrio suficiente para formar idéia e ter opinião a respeito. O que há no dia seguinte, o Dia das Caixas, literalmente (não há saco para explicar, que o que tinha Bom Velhinho de vermelho, barbas e cabelos brancos conte suas origens), são as vendas e liquidações a preços de "Papai Noel ficou maluco" na loja tal.

Nas exclamações imortais de Scrooge, o esplêndido personagem criado por Charles Dickens, "Bah! Humbug!" (Ivan Lessa - BBC)
N E – O cidadão que escreveu este texto deve ter um pusta trauma de infância relacionado ao Natal. Mas ele não está de todo errado não. Em que pese a boa vontade e sinceridade de algumas pessoas em manter vivo o espírito natalino, a Data se presta mais a isso mesmo: Hipocrisia, ganância de comerciantes, aporrinhações familiares e outros sentimentos e comportamentos humanos que afloram com mais intensidade nesta época do ano. Esperamos que os nossos leitores possam superar estas coisas e gozar, sinceramente, de Boas Festas e um ano novo de muita paz. Tim, tim pra vocês!
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