quarta-feira, 5 de julho de 2017

Celulares velhos deixam R$ 300 milhões em ouro no lixo




O smartphone que você carrega no bolso tem R$ 4,20 de ouro e R$ 0,63 de prata.

Achou pouco? Agora considere que existem no Brasil cerca de 170 milhões de smartphones em uso – o que totaliza nada menos do que R$ 821 milhões só em ouro e prata. Uma verdadeira fortuna, e que não para de crescer: a cada ano, em média, 47 milhões de pessoas trocam de smartphone – e os metais preciosos contidos nos aparelhos antigos, cujo valor é estimado em R$ 316 milhões (veja infográfico na página 48), ficam esquecidos no fundo da gaveta.

Pode não parecer, mas os aparelhos eletrônicos, mesmo os mais baratos, contêm bastante ouro. É que o ouro é um excelente condutor de eletricidade e demora muito para se degradar, ou seja, é ótimo para os circuitos internos de gadgets em geral. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, existem nada menos do que 500 milhões de aparelhos eletrônicos nas casas dos brasileiros – e isso contando só os que já foram aposentados e estão sem uso. Mas a proliferação de gadgets está se tornando um problemão. “O mundo produz 41,8 milhões de toneladas de lixo eletrônico por ano”, explica Ruediger Kuehr, secretário-executivo do programa da ONU sobre lixo eletrônico. Isso dá aproximadamente 6 kg para cada pessoa – ou o equivalente a 32 iPhones. Reciclar eletrônicos é difícil, mas é necessário: inclusive porque, se não fizermos isso, uma hora não vamos mais ter como fabricar novos gadgets.


Para fazer aparelhos eletrônicos, é preciso usar mais da metade da tabela periódica. Alguns elementos são valiosos para a indústria em geral, caso do lítio, do níquel, do cobre e do paládio, além do alumínio, do ferro e de diferentes tipos de plásticos. Existem também as chamadas terra-raras – nome dado a 15 elementos: lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio e lutécio. Eles são fundamentais para produzir smartphones, turbinas eólicas, carros híbridos e óculos de visão noturna.

Para cada um deles, haverá um momento em que as reservas vão acabar. Um estudo da Universidade Yale analisou 62 metais usados em smartphones e gadgets em geral – e constatou que 12 deles simplesmente não têm substituto. “Todos nós gostamos dos nossos celulares. Mas será que, daqui a 20 ou 30 anos, ainda vamos ter acesso a todos os materiais necessários [para fabricá-los]?”, questionou a cientista Barbara Reck, coautora do estudo.

A humanidade sabia que isso ia acontecer. Já em 1865, bem antes da era digital, o economista William Stanley Jevons identificou o problema. Enquanto o mundo todo dizia que a demanda por carvão diminuiria porque as máquinas estavam se tornando mais eficientes, Jevons afirmava que a evolução da tecnologia levaria os produtos a se tornarem mais acessíveis. Logo, as vendas melhorariam e o consumo de carvão aumentaria. Foi o que de fato aconteceu. Recentemente, pesquisadores do MIT analisaram o mercado atual de eletrônicos à luz dessa teoria, conhecida como Paradoxo de Jenver. Concluíram que, sim, os recursos naturais, os metais valiosos, as terras-raras, tudo isso vai ser mais consumido porque a demanda vai aumentar. “O avanço da tecnologia, por si só, não garante sustentabilidade. Pelo contrário”, afirma o especialista em engenharia de materiais Christopher Magee, um dos autores do estudo.

Outro problema é o impacto ambiental. Para extrair o 0,034 g de ouro que vai em um único celular, é necessário escavar 10 kg de terra de minas. A fabricação do aparelho todo consome 13 mil litros de água, e emite 16 kg de CO2 – a mesma poluição gerada ao rodar 320 km com um carro popular. Em suma: cedo ou tarde, vamos precisar reaproveitar o lixo eletrônico da mesma forma que hoje fazemos com as latinhas de alumínio (98% delas são recicladas). Click no link e leia mais no Super Interessante



Um comentário:

Unknown disse...

Na França já existe uma empresa que transforma o metais preciosos (ouro e prata) dos aparelhos eletrônico em barras. É altamente lucrativa.