As vitrines das lojas e os principais sites de comércio eletrônico do país anunciam: está aberta a temporada de promoções da Black Friday.
A
data de descontos foi importada dos Estados Unidos, onde é um dos dias
mais aguardados no ano por consumidores, que garimpam produtos com
grandes descontos.
Ela já foi adotada em outros países, como
Reino Unido, Austrália, México, Romênia, Costa Rica, Alemanha, Áustria,
Suíça e no Brasil, para marcar o início da temporada de compras de
Natal.
Por aqui, a Black Friday chega à nona edição com a expectativa
de movimentar R$ 2,43 bilhões em 2018 só com as compras feitas pela
internet, uma previsão de aumento de 15% em relação ao ano passado,
segundo a pesquisa Ebit/Nielsen.
Em 2010, seu ano de estreia no
Brasil, movimentou apenas R$ 3 milhões em vendas online, de acordo com
um levantamento da ClearSale, e cresceu exponencialmente desde então,
tornando-se uma das principais datas do comércio nacional.
Mas
quando é a Black Friday? Como ela surgiu? Por que ganhou esse nome? E
vale a pena ir às compras nesta data? Confira a seguir.
Quando é a Black Friday?
O evento acontece tradicionalmente nos Estados Unidos no dia seguinte ao feriado de Ação de Graças.
De
meados do século 19 ao início do século 20, o Dia de Ação de Graças foi
celebrado no país na última quinta-feira de novembro, em um costume
iniciado pelo presidente Abraham Lincoln (1809-1865). O dia poderia,
assim, cair na quarta ou quinta quinta-feira do mês.
Em 1939, porém, algo aconteceu - a última quinta-feira foi coincidentemente o último dia de novembro.
Preocupados
com o curto período de compras para as festividades de fim de ano,
lojistas fizeram uma petição para que fosse declarado o início das
festas uma semana mais cedo, o que foi autorizado pelo presidente
Franklin Roosevelt (1882-1945).
Pelos próximos três anos, o Dia de Ação de Graças
foi apelidado de "Franksgiving" (uma mistura de Franklin com
"Thanksgiving", como a data é chamada em inglês) e celebrado em dias
diferentes.
No final de 1941, uma resolução conjunta do Congresso
fez com que, dali em diante, o Dia de Ação de Graças fosse comemorado na
quarta quinta-feira de novembro, garantindo uma semana extra de compras
até o Natal.
Assim, como o feriado de Ação de Graças cairá em 22 de novembro em 2018, a Black Friday será em 23 de novembro.
Qual é o significado da Black Friday?
O termo quer dizer literalmente "Sexta-feira Negra" em inglês.
Nos
Estados Unidos, a primeira vez que a expressão foi usada foi no dia 24
de setembro de 1869, quando dois especuladores, Jay Gould e James Fisk,
tentaram tomar o mercado do ouro na Bolsa de Nova York.
O governo
foi obrigado a intervir para corrigir a distorção, elevando a oferta da
matéria-prima ao mercado, o que fez os preços caírem e muitos
investidores perderem fortunas.
"O adjetivo 'negro' foi usado
durante muitos séculos para retratar diversos tipos de calamidades",
afirma o linguista Benjamin Zimmer, editor-executivo do site
Vocabulary.com.
Mas, segundo Bonnie Taylor-Blake, da Universidade
da Carolina do Norte, a Factory Management and Maintenance - uma
newsletter do mercado de trabalho - reivindica a autoria do uso do
termo.
Em 1951, uma circular da empresa chamou atenção para a incidência de profissionais doentes naquele dia.
"A
síndrome da sexta-feira após o Dia de Ação de Graças é uma doença cujos
efeitos adversos só são superados pelos da peste bubônica. Pelo menos, é
assim que se sentem aqueles que têm de trabalhar quando chega a Black
Friday. A loja ou estabelecimento pode ficar meio vazio, e todo ausente
estava doente", dizia a circular.
Mas o termo só começou a ganhar
popularidade quando passou a ser usado na Filadélfia por policiais
frustrados com o trânsito causado pelos grande fluxo de consumidores
naquele dia - eles começaram então a se referir desta forma à Black
Friday.
Os lojistas evidentemente não gostaram de ser associados
ao tráfego e à poluição. Eles, então, tentaram mudar o termo para "Big
Friday" ("A Grande Sexta", em tradução literal), segundo um jornal local
de 1961.
Com o tempo, Black Friday passou a significar "voltar ao
azul". Os lojistas repaginaram positivamente o termo ao dizer que ele
se referia ao momento em que voltavam a ter lucro. Mas não há provas de
que isso tenha realmente acontecido.
É verdade que o período de
festas corresponde à maior parte dos gastos de consumo do ano. Mas, por
outro lado, quanto dessas receitas realmente se torna lucro não está
claro, dado que os lojistas trabalham com margens mais apertadas ao
oferecer grandes descontos.
Quando a Black Friday se tornou tão popular?
O
termo Black Friday permaneceu restrito à Filadélfia por um tempo
surpreendentemente longo, e a data só se tornou uma referência nacional
nos Estados Unidos na década de 1990.
"Você podia vê-lo sendo
usado de maneira moderada em Trenton, Nova Jersey, mas não ultrapassou
as fronteiras da Filadélfia até os anos 1980. O termo só se espalhou a
partir de meados dos anos 1990", disse Zimmer.
Mas, embora a Black
Friday seja considerada o maior dia de compras do ano atualmente nos
Estados Unidos, a data não ganhou esse título até os anos 2000.
Isso
porque, por muitos anos, a regra não era que os americanos adoravam uma
liquidação, mas sim que adoravam procrastinar. Ou seja, até certa
altura, era no sábado após o Dia de Ação de Graças - e não na
sexta-feira - que as carteiras ficavam mais vazias.

Eles passaram então a oferecer suas próprias liquidações, apesar de o Dia de Ação de Graças no Canadá acontecer um mês antes.
No
México, a Black Friday ganhou um novo nome - "El Buen Fin", ou "O bom
fim de semana". A comemoração é associada ao aniversário da revolução de
1910 no país, que às vezes cai na mesma data que o Dia de Ação de
Graças nos Estados Unidos. Como o próprio nome sugere, o evento dura o
fim de semana inteiro.
No Brasil, onde o feriado de Ação de Graças
não existe, a data passou a ser incluída no calendário comercial do
país quando lojistas perceberam seu potencial de vendas.
A Black Friday vale a pena?
No
Brasil, os organizadores da temporada de promoções vêm há alguns anos
tentando mudar a imagem que a data conquistou no Brasil após suas
primeiras edições.
Isso porque, conforme as vendas foram
aumentando, também se multiplicaram os problemas. Houve muitas denúncias
de maquiagem de preços, com o valor de um produto sendo elevado poucos
dias antes da Black Friday para oferecer então um "desconto" em que o
preço cobrado era igual ou até mesmo superior ao valor não promocional.
Falhas
técnicas dos sites também contribuíram para frustrar o consumidor e
gerar uma imagem negativa da Black Friday, que acabou sendo apelidada
nas redes sociais de "Black Fraude": a data em que, segundo a piada, os
produtos "custam a metade do dobro".
Para consertar o estrago causado pelas promoções
falsas e superar a desconfiança dos clientes, os organizadores tomaram
medidas como lançar um selo para dar credibilidade aos descontos
oferecidos e criar um código de ética para as marcas que desejam
participar da data.
Ainda foram lançadas ferramentas para
acompanhar o histórico de preços de produtos e programas que alertam se
uma promoção é enganosa, além de campanhas de conscientização do
consumidor.
Estas medidas vêm surtindo efeito, segundo a pesquisa
Ebit/Nielsen. Entre as pessoas consultadas, 15,8% disseram em 2016 que
não fariam compras durante a Black Friday. Hoje, são 11,4%. Dentre
estas, aquelas que afirmavam que fariam isso por não confiar nos
descontos eram 41% há dois anos - desta vez, são 35%.
A avaliação
de representantes de serviços de defesa do consumidor e do comércio é
que a data pode valer a pena, sim, mas com ressalvas.
Vale se a
ideia for gastar menos em algo que você já deseja, mas não é hora de
fazer dívidas. Em suma: nada de impulsos. Se tiver algum dinheiro
sobrando, é uma boa data para economizar, desde que sejam seguidas
algumas recomendações:
* Prepare-se: saiba mais
sobre o produto desejado. Qual é a melhor marca? Que modelo tem as
características ideais? Analise preços antes de a Black Friday começar
para saber no dia se o valor oferecido é só um pouco menor (ou até
maior) do que o de dias atrás. Recorra a sites que comparam preços e
informam seu histórico. E simule antes da data uma compra para saber o
valor do frete. Para compensar uma promoção, fornecedores podem
encarecer a entrega.
* Tome alguns cuidados ao comprar: faça
capturas de tela ao comprar para garantir que o preço anunciado é o
mesmo cobrado. A oferta deve ser cumprida à risca. Use um site confiável
- confira sua reputação em serviços como o Reclame Aqui e prefira
páginas que tenham o código "https" no endereço, indicação de que é
seguro e de que seus dados não serão roubados. Atenção a endereços
semelhantes aos dos grandes varejistas que buscam atrair clientes
desatentos para sites duvidosos. E desconfie de descontos muito maiores
do que os da concorrência.
* E se algo der errado?: entre
em contato com a loja para cobrar uma solução, com capturas de tela da
compra e outros documentos em mãos. Se o pedido não for atendido,
procure serviços de atendimento ao consumidor, como o Procon do seu
Estado. Você pode fazer uma denúncia pelo site ou pelo telefone 151. (BBCBrasil)
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