Nascer Santana dos Olhos D’água foi uma benesse do destino a Feira, mas
a implacável destruição das nossas lagoas, ao longo de décadas, tem
sido uma amostra de como temos sido pouco gratos por essa generosa
oferta da natureza. Uma das últimas marcadas para morrer é a Lagoa
Salgada, a maior de todas.
O Meio Ambiente, em nossa cidade, sempre foi vítima do desprezo ou da
silenciosa cumplicidade, o que resultou no estarrecedor desaparecimento
de nossas nascentes. O poder municipal chegou à inédita situação – nunca
antes vista, na história desse país – de aceitar parecer pago pelo
interessado, para dizer que uma área de lagoa não era uma lagoa. Foi o
que aconteceu na Lagoa Subaé, por ação de um supermercado, e na Avenida
José Falcão.

Tenho lido, nos jornais, que a Senhora tem grande prestígio junto ao
Governo Federal e ao Presidente e que até sonha ser prefeita de nossa
cidade. É por isso que lhe dirijo essa carta pública. Não a conheço e
sei que a Senhora também não me conhece. Escrevo, apenas, como cidadão
feirense. Nada tenho a lhe pedir de pessoal. O que peço é pelo bem
comum.
Confesso que não me importo de passar a “cuia de esmoler”, pelas coisas
de Feira, a quem quer que seja. Portanto queria pedir que usasse sua
influência para ajudar a preservar a Lagoa Salgada. O ex-secretário
Municipal de Meio Ambiente, Sérgio Carneiro, deixou um projeto – que,
atualmente, se encontra no Ministério da Integração Nacional – de
criação de uma ciclovia e de uma pista de cooper ao redor dela. A
intervenção impediria que a Lagoa Salgada continuasse a ser invadida,
dilapidada por um processo voraz de geração de escrituras – fenômeno
feirense muito comum –, que vem reduzindo, dia após dia, seu espelho
livre.
Embora fartos de saber que se trata de uma Área de Proteção Ambiental
(APA), na qual ninguém poderia construir, e que cabe ao Ministério
Público e à Prefeitura Municipal zelar por ela e impedir a sua
destruição, a realidade não é essa. Sabemos que o comércio é contínuo,
que nascentes são enterradas de propósito, como já documentamos e
publicamos, reiteradas vezes, no Jornal Tribuna Feirense.
O custo, no projeto, estava estimado em R$ 2,5 milhões. O valor,
parafraseando o astronauta Armstrong, é um minúsculo passo para o
Governo Federal, mas um salto gigantesco para a preservação da área, de
seu entorno e do futuro.
Só a ciclovia pode salvar a Lagoa. E só a Lagoa salva pode salvar a
alma e o olhar do feirense dessa perda irreparável. Perdoe-me o
atrevimento e o pedido público. É o meio do qual disponho. Espero poder
contar com seu empenho e compreensão.
Atenciosamente, César Oliveira.
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