Em comparação com a Amazônia, o Cerrado é uma verdadeira terra 
de ninguém. Enquanto cerca de metade da floresta tropical está protegida
 por áreas de conservação, apenas 13% da maior savana sul-americana 
conta com algum tipo de proteção legal. Não é à toa que menos de 20% da 
área original do bioma permanece intacta. Das atividades mais danosas ao
 Cerrado, a principal tem sido a agricultura, especialmente o cultivo de
 soja.
Isso fica claro na safra de 2015, em que 48% dos grãos
 produzidos no país vieram de lá. Quase um quarto das plantações ficam 
no Matopiba, maior fronteira agrícola do Brasil, que reúne porções dos 
estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Ali, a área ocupada pela 
soja cresceu 253% entre 2000 e 2014. Neste período, no Cerrado como um 
todo, estima-se que 30% da expansão da soja tenha ocorrido em terras 
onde antes havia vegetação nativa.
Na Amazônia, só não aconteceu a mesma coisa graças à chamada 
Moratória da Soja, um pacto ambiental selado entre sociedade civil, 
indústria e governo para proibir a compra de grãos plantados em terrenos
 com desmatamento recente. Funcionou: apenas 13% da produção brasileira 
de soja veio da região amazônica em 2015. Especialistas apontam a 
necessidade de medidas urgentes para frear o avanço sem escrúpulos do 
agronegócio sobre o Cerrado.
Um estudo liderado por pesquisadores do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e publicado nesta quarta-feira (17), sugere
 que a solução é incluir o bioma na moratória que protege a floresta 
amazônica. “Segundo o nosso modelo, expandir a Moratória da Soja da 
Amazônia para o Cerrado pode evitar a perda de uma quantia significativa
 de vegetação nativa e, ao mesmo tempo, bater metas de produção de 
soja”, afirma em comunicado Aline Soterroni, do INPE, autora principal e
 pesquisadora do Instituto Internacional de Análise de Sistemas 
Aplicados.
Foi a primeira vez que cientistas analisaram os dados para 
entender qual seria o impacto dessa medida. Descobriram que seria ótimo:
 evitaria que 3,6 milhões de hectares de vegetação nativa do Cerrado 
fossem convertidas em lavouras de soja entre 2020 e 2050. Isso equivale a
 mais de 5 milhões de campos de futebol. Para conciliar a preservação 
ambiental com o aumento da produtividade agrícola, é só usar melhor a 
terra.
De acordo com o estudo, já existem pelo menos 25,4 milhões de 
hectares de área desmatada na região, usada principalmente como pasto 
para pecuária extensiva de baixa eficiência. Há espaço de sobra para 
plantar soja, e mesmo incluindo o bioma na moratória, a redução da área 
cultivável no país seria de apenas 2%. Só assim para conter a destruição
 do Cerrado, lar de espécies emblemáticas de nossa fauna, como o 
lobo-guará e o tamanduá-bandeira. (Super Interessante)

 
 
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