A notícia sobre o diagnóstico do
novo coronavírus em um recém-nascido no dia 5 de fevereiro, 30 horas
após o nascimento, correu o mundo.
O bebê é o paciente mais jovem
infectado no surto que já matou mais de mil pessoas e infectou cerca de
40 mil (99% na China, embora casos tenham sido detectados em mais de 30
países e territórios).
Um dos mais recentes estudos do surto foi publicado no Journal of the American Medical Association e analisa pacientes do hospital Jinyintan, na cidade de Wuhan, epicentro do surto.
Segundo
os dados analisados pelos pesquisadores, metade de todas as pessoas
infectadas pelo vírus eram adultos com idade entre 40 e 59 anos. Somente
10% dos pacientes têm menos de 39 anos.
"Casos entre
crianças têm sido raros", afirma o estudo. Mas por quê? A resposta não é
simples e passa por pelo menos três teorias: as crianças teriam um
sistema imunológico mais forte, levando a menos complicações e,
consequentemente, menos diagnósticos oficiais; o início do surto
coincidiu com o período de férias expondo as crianças a menor risco de
contágio e há também a possibilidade de o coronavírus ser mais um do rol
de vírus com sintomas mais brandos em crianças, como o da catapora, o
que também gera menor detecção formal pelo sistema de saúde.
Baixa incidência entre crianças
Nathalie
MacDermott, professora da University College de Londres, destaca a
possibilidade de a resposta estar no sistema imunológico de crianças.
"Crianças
com mais de cinco anos e adolescentes tendem a ter sistemas
imunológicos bastante preparados para lutar contra vírus", diz. "Eles
podem ser infectados, mas ter uma doença mais branda ou não desenvolver
sintomas."
Ian Jones, professor de virologia da Universidade de
Reading, acrescenta que as crianças parecem estar escapando dos sintomas
mais graves da infecção, sem determinar a razão.
Mas a
consequência é a não detecção pelo sistema de saúde dos casos. Ao não
desenvolver sintomas como febre e tosse, não há necessidade de consultas
médicas, hospitalizações e mais casos reportados.
"Pneumonia (uma
das consequências do coronavírus) tende a afetar aqueles com imunidade
enfraquecida porque eles já estão têm saúde debilitada ou se aproximando
do fim de suas vidas", explicou Jones, da Universidade de Reading.
"Isso
acontece com o vírus influenza e outras infecções respiratórias."
Adultos com doenças pré-existentes já pressionam seus sistemas
imunológicos — a exemplo de diabetes e doenças cardíacas — tendem a ser
mais vulneráveis a esse tipo de surto.
Christl Donnelly,
especialista em epidemiologia estatística da Universidade de Oxford e do
Imperial College de Londres, concorda, citando dados do surto de Sars
em Hong Kong.
"A conclusão de nossos colegas foi que, em crianças
pequenas, houve um percurso clínico menos agressivo da doença — então
elas foram menos afetadas."
Há precedentes para essa baixa
incidência em crianças — foi observada em surtos recentes de outros
tipos de coronavírus, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars),
que começou na China em 2002 e matou quase 800 pessoas (cerca de 10% dos
mais de 8.000 casos).
Em 2007, especialistas do Centro de
Controle e Prevenção de Doenças (CDC), órgão público dos Estados Unidos,
identificaram 135 casos pediátricos da Sars, mas descobriram que "não
houve mortes de crianças ou adolescentes".
As celebrações de fim de ano protegem as crianças?
McDermott,
da University College de Londres, também afirma que crianças não ficam
tão expostas ao vírus quanto os adultos — o surto começou durante as
celebrações de Ano Novo, período em que as escolas estão fechadas.
Quase
todas as províncias chinesas decidiram estender a suspensão das aulas, e
parte das escolas continuará fechada ao longo de fevereiro.
"Adultos
tendem a agir como cuidadores, e protegem as crianças ou as mandam para
fora de casa se alguém ali dentro estiver infectado."
McDermott estima que o cenário pode mudar se "a doença se espalhar ainda mais e ampliar o risco coletivo de ser infectado".
Entretanto, a rápida disseminação da doença, até agora, não tem sido acompanhada de um aumento do número de casos pediátricos.
O vírus tem efeitos mais graves em adultos do que em crianças?

"Isso é mais
provável do que (a hipótese de) as crianças terem algum tipo de
imunidade (ao coronavírus)", disse à BBC Andrew Freedman, especialista
em doenças infecciosas da Universidade de Cardiff.
Os efeitos
mais graves também estão relacionados às chamadas comorbidades, como
diabetes e doença cardíaca, que são muito mais comuns em adultos.
Mas as crianças não são conhecidas como 'espalhadoras' de vírus?
Crianças
costumam ser propensas a contrair e espalhar infecções virais, e em
geral são classificadas como "super espalhadoras", segundo Jones.
"Elas transmitem doenças respiratórias com muita facilidade, como sabe qualquer pessoa com filhos em creches", diz.
Poderíamos
esperar, portanto, um número elevado de crianças nas listas de
infectados — e de mortos — com o novo coronavírus, mas isso simplesmente
não está acontecendo, pelo menos até agora.
Se não há unanimidade
nas teorias, há consenso, no entanto, sobre o que fazer. Como se trata
aqui de um novo vírus, não é possível concluir taxativamente que as
crianças estão protegidas dos efeitos mais graves da doença, ou seja, é
importante seguir as medidas de prevenção das autoridades de saúde como a
frequente higiene das mãos. (BBC News Brasil)
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