
Meu universo de informação, aos dez anos, era composto pelos poucos
livros da escola, as coisas que meu pai e mãe faziam, as notícias em um
rádio- que ainda tenho, e onde ouvia a Vida de Lucas, o médico-, que me
fez escolher a profissão, e um ou dois jornais por mês que meu pai
trazia de Feira de Santana, lá para a roça. Não tínhamos Tv, nem luz. O
meu mundo de dilemas, dramas, comparações com vidas alheias, era tão
restrito quanto podia ser a vida nos inicio dos anos 70.
Mesmo
quando fui para Salvador, estudar, sozinho, aos 10 anos, morando em uma
pensão, não houve excessiva modificação das possibilidades, exceto a
ampliação de minha timidez e a leitura de mais livros emprestados por
um colega de turma cujo pai tinha uma boa biblioteca, fundamental a
minha sobrevivência.
A ambição de consumo não ia além de um
ferrorama, ambição de transporte era pegar um buzu com ar condicionado, a
ambição de festa era a Ballamour e Juvená, e uma batida, no Popular,
ou Diliana. A vida sexual se encaminhava de um de outro jeito, apesar
da falta de instrução. Na pior das hipóteses, no Clube Fantoches, no
Campo Grande, a gente conseguia umas encoxadas, porque as "meninas de
bem", demoravam demais de dar o ar de suas graças em nossa sopa.
Então, de repente -ainda, o mesmo humano-, os jovens foram obrigados a
terem milhares de opções de lazer, obrigatoriamente a serem escolhidas,
documentadas e exibidas, sob o permanente risco do ostracismo e da
inferioridade e de uma vida sem graça, a qual, por sinal, os pais se
esforçam em não permitir.
A vida sexual, por sua vez, tornou-se
imperiosa, cada vez mais precoce, e variada, afinal, a intensidade e
realização concentrou-se na quantidade como forma de compensar a
incapacidade da realização na intensidade do encontro. E fomos nos
tornando desnecessários ao outro.
E a vida de adulto - além do
sexo-, com infinitas informações, ocupação total do tempo, hedonismo
interminável, narrativas a serem criadas, decisões- inclusive sobre as
agendas paternas-, invadiu a vida dos jovens, retirando deles aquela
longa travessia que se fazia entre um e outro estágio.
E por
terem se tornado adultos tão cedo, perderam o amadurecimento da
juventude, e sendo adultos, sem amadurecimento, não passam de jovens
fragilizados que não estão suportando as frustrações que vida traz.
Ter mais, levou os jovens a ter menos deles mesmos, trocando o interno
pelo externo, o imaginário pelo objetivo, e, assim, estamos perdendo
nossos filhos para o medo, para a morte, o suicídio, o isolamento, a
dependência química, médica e medicamentosa.
Estamos indo longe demais. É hora de dar um passo atrás e revermos o que é realização e felicidade.
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