
O
enfrentamento à pandemia era um desastre anunciado, pelo modelo
diferente de todos os países do mundo a começar pelas divergências de
propostas entre o Presidente e seus Ministros. Essa dicotomia trouxe uma
péssima sinalização à população e gerou uma profunda cisão, em um país
que deveria caminhar em uma única direção. Os erros na condução do
enfrentamento podem ser resumidos em uma frase simbólica, crua, do novo
Ministro da Saúde: estamos navegando no escuro.
Entre os erros podemos citar:
1-a falta de clareza e decisões concretas, a começar pela desinformação
a respeito do número de vítimas e mortos, em intensa sub-notificação,
ou ausência de confirmação. A população não sabe claramente a
preparação, as medidas, o tamanho e a evolução real da doença.
2-a decisão por fazer exames como forma de enfrentamento a doença foi
tardia, muito tardia, e mesmo agora ainda não foi implantada de forma
plena. Não foi preparada a rede diagnóstica, o sistema de transporte, os
necrotérios dos hospitais de referência e o sistema funerário.
3-essa falta de exames expõe a vida de profissionais de saúde, amplia o
contágio, e não dá instrumentos seguros para ampliação ou redução do
isolamento social.
4-a politização do tratamento foi vergonhoso e
prejudicial, com torcedores por drogas- estimulados pelo presidente-,
sem comprovação, sem evidência científica definitiva. Assim como, a
politização entre governadores, líderes do Congresso, e o presidente,
que provocou tsunami no próprio governo com o afastamento de Moro, e as
manifestações pelo fechamento do STF.
5-a nociva e equivocada
informação que ela atingiria apenas idosos, portadores de comorbidades,
que era uma "gripezinha", o que não é real, trazendo uma falsa sensação
de segurança e indiferença para muitos .
6-a falta de empatia do
presidente- líder maior- com as vítimas salientadas em frases em que
perguntava se era coveiro, a famosa E dai?, ou que era Messias, mas não
fazia milagres. Faltou, também, inspirar, estimular, reconhecer
profissionais envolvidos, ser o fator que os faria ir avante, ser
agregador. Faltou discurso.
7- a criação da dicotomia de saúde
versus economia, como se uma opção apenas pudesse ser feita e cada uma
delas fosse variável independente, foi extremamente prejudicial, quando
se deveria buscar o melhor equilíbrio entre elas. Mesmo as corretas
medidas econômicas ficaram relegadas pelo debate politizado sobre o
isolamento social e cloroquina.
O potencial destrutivo -
econômico, físico, emocional- da pandemia deveria ter gerado entre o
presidente, os líderes do Congresso, o STF, PGR, imprensa, governadores,
um grande acordo de colaboração, um hiato, que concentrasse todas as
forças operando em uma só direção: a salvação de vidas, sem desprezo ou
conformismo por nenhuma delas, e a melhor preservação possível da
economia. Faltou estatura, capacidade de liderança, respeito ao cidadão,
ordenação administrativa e valorização da ciência. Não há inocentes
diante das dores, nem dessas mortes. São todos culpados.
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