quinta-feira, 1 de abril de 2021

Excursões

Excursão em grupo de amigos talvez seja uma das melhores recordações que trazemos conosco. Elas costumam marcar, às vezes de forma profunda, as nossas vidas. Logo na infância, pelo menos antigamente era assim, as professoras primárias levavam seus alunos para pequenos passeios educativos, onde as crianças começavam a conhecer sua cidade ou cidades vizinhas, para ver de perto como tudo funciona. Lembro da primeira excursão que fiz com meus colegas de classe para conhecer o Sistema de Abastecimento de Água de Feira de Santana, na longínqua localidade de Santo Antônio dos prazeres, onde a água que a cidade consumia era captada na Lagoa Grande.

Quando me tornei adolescente estas excursões se tornaram mais amiúde, e ia com meus amigos em Kombis ou ônibus fretados para praias, fazendas, distritos ou cidades próximas. Naquela época, em quase toda esquina da cidade tinha um grupo de “Sambão”. E com a minha turma não era diferente. Então a gente sempre levava instrumentos e onde a gente chegava a festa estava feita. A Visão Moda Masculina, loja onde eu trabalhava como office boy, costumava fazer excursões de fim de ano com todos os seus funcionários e ir ao Jorro era o passeio preferido. Sempre voltávamos renovados, cheios de estórias para contar, fotografias, lembranças, boas ou ruins, alguns romances vivenciados, alguns corações partidos, mas tudo era uma festa e nos aproximava mais.

A minha primeira grande excursão aconteceu em 1973, quando os concluintes do curso científico do Ginásio Municipal partiram em uma excursão pelo Nordeste. A turma ralou o ano inteiro fazendo de tudo para arranjar o dinheiro para bancar o ônibus e a alimentação. Vale salientar o poder de articulação de um grupo liderado por Raimundo Lima, hoje jornalista, que batalhou junto ao poder público para conseguir hospedagem para nós em cidades onde iríamos pernoitar. A maior parte da viagem a gente dormia mesmo era no ônibus, mas em Recife ficamos hospedados no maravilhoso ginásio de esporte Geraldão. Eu, como só tinha estudado no Municipal até a quarta série, consegui ser admitido no grupo pagando uma cota para bancar minha passagem. Eu não poderia perder aquela farra, principalmente porque minha namorada também ia. Além do conhecimento adquirido durante a viagem, um verdadeiro intercâmbio cultural, aquilo fortaleceu a amizade entre aquele grupo que perdura até os dias de hoje. Nos últimos cinco ou seis anos, o grupo tem promovido encontros anuais em algum local de eventos da cidade, um movimento que só foi interrompido por causa da pandemia.

Eu sempre gostei muito de viajar, sozinho ou em grupo, e grande parte do meu conhecimento devo a esse meu salutar hábito de viajar. Mas viajar não em grupos de turistas, pessoas desconhecidas. Sempre preferi viajar com gente que conheço. E mesmo quando viajei com grupos de turistas, nem sempre seguia os roteiros dos guias. Sempre dei um jeito de me desgarrar e me misturar com as pessoas do lugar, conversar com elas, buscar as informações não oficiais que os guias costumam nos empurrar goela abaixo. Mentem que nem se sentem. Em Cachoeira, por exemplo, um guia nos mostrava um igreja, e na maior cara de pau afirmava que a tinta dourada das filigranas no teto era à base de ouro, e que uns florões enormes colados no teto de gesso, eram de ouro maciço. Não poderia ser. O peso do ouro quebraria o gesso e despencaria o florão. Ademais, eu, que sempre tive olho de águia, via no canto de um dos florões dourados, um local onde a tinta descascou e o gesso do florão aparecia. H eu não como nem em sopa de letrinhas.

Eu fui a Foz do Iguaçu em uma excursão com uma turma de um curso que eu estava fazendo. Quando eu cheguei lá percebi que o curso não era nada do que eu esperava e resolvi aproveitar o resto da viagem do meu jeito, já que eu já tinha pago pela viagem. Resolvi fazer turismo e me embrenhei no meio do povo e fui conversando com um aqui e outro ali e procurando saber das coisas que me interessavam. Eu atravessei a Ponte da Amizade e fui ao Paraguai comprar umas coisas que eu queria. Voltei de táxi para o hotel e fiz amizade com o motorista. Conversei muito com ele, que me revelou já ter trabalhado em vinícolas. Foi com ele que descobri que a grande maioria dos vinhos populares consumidos no Brasil nunca viram uma uva. Tudo feito com essências.

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