* Carta enigmática *
Restrinjo-me à última página das edições da “Vida Juvenil” com suas Cartas Enigmáticas. Ansioso, aguardava as ditas e ao decodificá-las curtia a emoção de um larápio ao descobrir o segredo de um cofre.
Assim, charadas passaram a fazer parte de minha vida. Mais ainda, pela sedução do eterno enigma da esfinge: decifra-me ou devoro-te. Por isso eu, que jamais gostaria de virar pasto de um ser de pedra – tendo alcançado a enigmática mensagem – aprendi os necessários cuidados ao tergiversar.
Será o enigma um bem-me-quer, malmequer?
Especiais requebros fazem-se necessários quando, dando tratos à bola, fazendo cabriola, atamos atuais posts mundanos a fatos havidos há anos.
Tanto requer, também, vida pregressa vivida sem pressa, bem-me-quer, malmequer, farejando de quase tudo um pouco, com a natural curiosidade pelo desconhecido, associada ao temor de tornar-se convencido.
Em repente inesperado, silêncios por todo lado, transformei-me em ser alado. Assim, aventurado, copiei e colei o que me foi dado no Tempostal de meu viver arrevesado.
Desvendo o enigma.
Janeiro de 1980.
Sinatra se apresenta
no Rio de Janeiro.
Maracanã borbulhando, 150 mil pessoas.
Entrementes, na companhia de Benjamin Menendez, um dos fundadores da fábrica de charutos são-gonçalense, nascido ao mesmo dia/mês que eu, sendo cinco anos mais velho, estávamos em Nova York a serviço da empresa.
“Vamos ao cinema?” Indagou Benjamin.
Lá fomos assistir película, cujo enorme cartaz anunciava: "Deep Throat", filme que rolava em sucesso há certo tempo.
Por qual razão consigo precisar a data da estada em Tio Sam? Fácil entender. Estávamos ao cinema justamente quando Sinatra se apresentava no Brasil. Ele, enquanto (en) cantava, nós assistíamos "Garganta profunda".
É aquilo que falei
ao início, bem-me-quer, malmequer, sem precisar qual - tanto é impossível -, se
assistir Sinatra ao calor do Rio ou Deep Throat em NY, curtindo enorme frio;
tanto relembrar acode-me um arrepio.
A magia de Sinatra
nos deixou,
Voz encantada; sempre
lembrada.
A garganta profunda
perdurou,
Em meu cérebro gravada.
A voz-tenor do
homem?
A garganta-soprano da mulher?
Tenor ou soprano?
Cuidado com o engano!
Assim,
enigmaticamente, por hoje, despeço-me.
Hugo A. de Bittencourt
Carvalho,
economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos Menendez &
Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos Campos – BA.
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