*Incitação à escrita*
Como (con) vencer a
inércia
desde logo me escuso,
quero apenas prosear,
não pretendo ser
intruso.
Escrever é ato que,
além de certo tempo,
demanda algum intento.
Amigas e amigos,
com diversos verbos,
um ou outro advérbio,
poucos possessivos,
outros tantos
adjetivos,
arquitetam-se textos substantivos.
Textos
que, ao colidir com nosso palato mental,
deletam
as mesmices do dia a dia ‘normal’.
Comensal de pratos
muitos,
nego ser gourmet
formado,
tenho paladar
treinado.
Assim, posso dar
testemunho.
Verdade,
sem tempo para as lavras,
mesmo tendo-se palha a contento,
não se tecerá um cesto
de palavras.
Mas, não se requer um
cesto.
Basta um cento.
Refugiem-se,
evadam-se.
Digam: vou ali e volto
já!
Façam como eu, quando
com vontade de me
manifestar,
fujo das atribulações
impostas pelo cacoete do viver ocupado,
dou-me a debulhar
grãos de espigas da imaginação.
Grãos de milho, se
assim os imaginem.
Todavia,
é compreensivo,
se suas fadas-madrinhas não curtirem crenças
telúricas,
nos frutos da terra
que nos acolherá,
abandone-se, mulher ou
homem,
ao embalo dos
celestiais acordes
do mítico ímã que, do
alto, nos (a) trai.
Em vez de espigas do milharal,
um rosário.
Relicário,
gestualmente desfiado.
(Concentr)ação
que, fugindo à vezeira regra,
não
estará contextualizada à apelação das aflições humanas.
Refiro-me,
isso sim,
à
vernácula e laboriosa manifestação de ideias.
Palavras
concatenadas.
Algumas
vezes, nem tanto.
Caneta
em punho,
Risquem, rabisquem, desafiem-se!
Assim como o universo
é pleno de espaços vazios,
não temam os vazios de
inspirações.
Vazios sem sombras,
sem sons, sem sóis, só frios.
Talvez, assombrações.
E
mais.
Não
pensem que o ora narrado,
de
forma instantânea, haja brotado.
Não foi coisa momentânea
nem geração espontânea.
Insistam. Intentem.
Apropriem-se da luz
que nos deslumbra
quando abrimos (com)
portas da imaginação.
As chaves estão com
vocês.
Em tal ocasião,
em desmedida avalanche,
tudo se vai de roldão,
revolve em linhas e entrelinhas,
nossas (des) crenças.
Em
luzir tal me inspiro.
Em estar tal me estiro.
De meu quintal, os
(ad) miro.
Etecetera e tal.
De peito aberto, garanto.
Do amigo distante, nem
tanto.
Hugo
Bittencourt
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