quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Perus, penetras e outros bichos

           

              
Nos anos 60, 70, era comum jovens se reunirem na casa de alguém para comer, beber e dançar, sob a vigilância dos pais. Estas festinhas, sabe lá Deus porque, eram chamadas de assustados. E como toda festa não deixava de ter os famosos “penetras”, também conhecidos como perus e bicões. Eram pessoas que mesmo não sendo convidadas apareciam em praticamente todas as festas. Algumas dessas pessoas se transformaram em verdadeiros penetras profissionais. Amigos me contaram que por diversas vezes toparam com um conhecido “peru” de Feira de Santana em festas em Salvador. Era Feira de Santana exportando tecnologia (Como entrar em festa sem ser convidado). Esse costume não sei se perdura até os dias de hoje.

         Alguns perus se especializam em determinadas festas ou eventos. Conheci um que não perdia nenhum coquetel promovido pelo Centro das Indústrias de Feira de Santana (Cifs). Ninguém nunca soube o seu nome. Mas, ele transitava pela festa como se fosse anfitrião. Falava com todo mundo, apertava a mão chamando as pessoas pelo nome e se encostava nas rodas de conversa prestando a maior atenção, embora não opinasse.  Havia um também, conhecido como Edson Som, que se especializou em frequentar reuniões importantes e foi visto algumas vezes em grandes eventos na capital do Estado, transitando com desenvoltura entre os convidados.

         Realmente ser penetra é uma arte. Não é para qualquer um. Além de convencer os seguranças e porteiros, ainda terá que convencer os convidados de que não está ali por acaso, mas como um membro importante daquela comunidade. Requer também muito conhecimento sobre os eventos e as pessoas que os realizam e muita presença de espírito. Por exemplo: Um desses “artistas” ao ser questionado por um segurança em um grande evento pelo seu convite, o penetra fez ar de indignado e gritou: Você sabe quem sou eu? Quando o segurança disse que não, ele exclamou: Graças a Deus! E sumiu pelo jardim, pulando o muro.

         Um caso curioso de penetra aconteceu comigo. Mesmo não tendo sido exatamente um. Eu trabalhava em uma loja e me pediram para levar um documento na sucursal do jornal Tribuna da Bahia em Feira de Santana. Quando entrei para entregar o tal documento, algumas pessoas se encontravam em volta de uma mesa preocupadas com a falta de um dado importante para uma matéria que deveria seguir de imediato para Salvador. É que a equipe de reportagem estivera no sábado cobrindo o casamento da filha de um secretário municipal. Os “gênios” anotaram tudo direitinho, mas, esqueceram um dado extremamente importante, o nome do noivo, e estavam queimando as pestanas sobre o que fariam. Um deles me olhou de modo curioso e disse aos colegas: Peru é quem sabe das coisas! Esse cara aí estava no casamento, e me perguntou: Você não estava no casamento da filha do secretário sábado? Diante da minha afirmativa, perguntaram: como é o nome do noivo? Eu respondi: Roberval. Ele abriu um largo sorriso e disse: Roberval de que? Vê lá se eu ia esquecer o nome do meu velho amigo de infância! E respondi: Roberval Alves Pereira. Eu podia até informar o nome dos pais e a data de nascimento dele e dos mais de uma dúzia de irmãos. Mas, eles ficaram satisfeitos apenas com o nome. E o sujeito que me questionou, continuou me chamando de “peru”, quando na verdade, eu era convidado e eles os penetras.       

        

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