Em 31 de março de 1964 eu tinha apenas 10 anos. Naquele tempo menino não se metia em conversa de adulto. Mas, eu percebia que havia alguma coisa errada, pois os adultos cochichavam e se mostravam preocupados. Porém, isso foi só naquele dia. No dia 01 de abril, o clima lá em casa era bem diferente, já que era aniversário de um dos meus irmãos. À noite houve uma recepção e todos estavam alegres. Por lá apareceram um dos amigos de meu irmão trajando a farda do Exército Brasileiro. Eu não entendi bem por que. Só mais tarde vim a saber que ele era um oficial da reserva.
Vida que segue. Os dias foram
transcorrendo normais, pelo menos para mim e para a pacata cidade de Feira de
Santana. Aqui ou acolá se ouvia ecos de uma revolução militar, mas, nada que
afetasse o dia a dia da cidade. Em 1968 eu já entendia melhor o que acontecia,
mas, peguei uma doença que me levou ao leito por seis meses. Como não havia
remédio, a cura seria com repouso absoluto. Colei minha cama no pé do rádio e
ouvia de manhã à noite a programação da Rádio Sociedade da Bahia. Foi assim que
comecei a me inteirar dos fatos políticos que abalavam o Brasil, porém, eu não
senti nada. Naquele curto período ouvindo rádio creio que aprendi mais do que
em qualquer escola.
Quando voltei à escola, muitos dos meus
colegas já estavam envolvidos em passeatas contra a Ditadura. Eu me lembro de
que votei contra o candidato a prefeito da minha família, mas, apenas porque os
meus colegas diziam que nós éramos revolucionários. Vida que segue, eu comecei
a entender melhor as coisas e fui formando opinião própria. Percebi mais tarde
que direita ou esquerda não existiam. Tudo era apenas um jogo de interesses
políticos.
Fui tocando a minha vida sem dar
importância sobre quem estava no poder. Pra mim pouco importava se era de
direita ou de esquerda. Participava de campanhas políticas apenas por
interesses pessoais, nunca por convicção. Meus ex-colegas, amigos, todos foram
tomando seus rumos e comigo não foi diferente. Contudo, ainda me incomodavam as
discussões sobre direita e esquerda. As pessoas se dividiam e assumiam cargos
dependendo da posição política que tomavam. Cidades ou estados governados por
políticos de direita empregam pessoas que se colocaram como indivíduos de
direita. E os de esquerda seguiam o mesmo rumo. Mas, todo mundo vivia e
convivia em paz e a gente nem se lembrava de que acontecera um movimento revolucionário.
Movimento este que os de direita afirmavam ter sido uma revolução e os de
esquerda que fora um golpe de Estado.
O tempo passou e hoje, 60 anos depois,
eu tenho a convicção de que não houve nem revolução, nem golpe de Estado. Tudo
não passou de um grande 1º Abril.
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